Tristeza e alegria
Tristeza, alegria,
águas da mesma fonte.
Uma amarga e escura, evitada.
Outra doce e cristalina, sempre bem vinda.
construímos barragens e canais
Para que a tristeza não nos banhe.
Desviamos seu curso, em vão.
Cedo ou tarde sentimos a sua força
mais áspera e arredia do que antes.
Por outro lado, sedentos
abrimos dutos e rezamos
para que caiam sobre nós rios de alegria.
Recebemos cachoeiras como resposta.
Ansiosos, bebemos o tanto que podemos.
Às vezes sequer agradecemos.
E, cegos para a sua impermanência,
choramos ao vê-la por entre os dedos escorrendo.
De imediato tornamos a desejar
mais uma fonte que venha nos alegrar.
Cansados de viver este ciclo
aflitos, à mercê do tempo
alguns negam estar sedentos.
Mergulham num tremendo isolamento,
sem água, sem um pingo de alegria.
E sofrem por não conseguirem perceber
que a alegria e a tristeza brotam juntas
e deságuam em nossos corações, inevitavelmente.
Cabe a nós apenas contemplar
seu eterno devir,
como um rio que nunca pára.
E seja ele escuro ou cristalino,
Cada um possui a sua beleza.
(Tales Nunes)