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O “abrir” na prática de ásana

Qual é o sentido de “abrir” na prática de ásana? O que precisa ser aberto? Será que a flexibilidade física é essa abertura?

Na visão do Yoga, nós somos 3 corpos … e algo mais. Esses três corpos são: um corpo denso, composto pelos 5 elementos. Um corpo sutil, fluxo de energia, emoção e pensamento. E um corpo de memória, o inconsciente, lugar sem lugar em que todas as nossas memórias estão, um campo “virtual”, não material, imagético.

Podemos dizer, portanto, que há um fluxo de intensidade que se move na matéria, um fluxo de energia vital que move o corpo físico. Faz bater o coração, é responsável pela digestão, circulação etc. Esses movimentos constituem também todas as nossas emoções e fluxos mentais. 

Pensando no sentido desses três corpos, abrir na prática de ásana poderia ser: liberar algum fluxo energético, mental ou emocional contido. Contido como algum trauma emocional, como alguma ideia presa, como alguma crença de que não se pode sentir tal emoção. Existem dois meios para esse “abrir”, um caminho somatopsíquico e um caminho psicosomático. O primeiro consiste em mover o corpo para liberar a energia. Esse mover, contudo, não precisa de tanta amplitude. A flexibilidade não quer dizer mais abertura emocional ou mental. O fluxo de energia pode ser restituído com um toque, com movimentos sutis, vagarosos, conscientes. Você não precisa chegar lá. O lá é aqui, o lá é o corpo vivo. À vezes é essa ideia de chegar numa flexibilidade ideal que bloqueia. A ideia de progressão pode bloquear.

A segunda forma de liberar fluxos é psicosomático. Através do corpo sutil, diretamente, criar aberturas. Isso acontece quando se lê um poema, quando se escuta uma música, quando, numa meditação reflexiva, as palavras nos libertam do medo, da angústia, da paralisia. Isso não aumenta a minha flexibilidade física, não precisei de toda a amplitude possível num asana, mas algo fez mover, algo fez fluir.

A partir dessas liberações, podemos sentir diferente, agir de outra maneira na vida. E isso faz com que criemos resultados diferentes, com que transformemos o nosso karma, ou seja, nosso corpo causal, a memória inconsciente, o campo de imagens que nos move sem sequer sabermos. Essa seria, portanto, a relação entre os três corpos na prática de Yoga. Mas o que é esse “algo mais” que os três corpos? 

Esse algo mais é uma abertura. A abertura sensível que permeia o corpo inteiro, que permeia a Vida. A abertura amorosa não tem forma específica, ela é. Ao liberar fluxos no corpo, nos permitimos nos aproximar da essência da Vida, a abertura, o sensível. O trauma não prende apenas a energia, o trauma nos prende, prende o sensível, fecha a abertura para a vida. O que se abre, portanto, na prática de asana, é a abertura, é a sensibilidade. Para se perceber como um campo sensível, não é preciso chegar do outro lado do mundo, na máxima flexibilidade possível. O que nos pede é calma e presença no movimento. O que nos pede é uma relação amorosa com o corpo e com a vida. Essa é a abertura.

Tales Nunes

Florianópolis, 18 de março de 2025

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