Num mundo complexo, a simplicidade é luxo para poucos. Simplicidade é desprecisar, é se desprender, é se desnudar constantemente para apreciar o que é. Não é se desnudar apenas de roupas, de trecos desnecessários que nos circundam, mas especialmente de ideais. São eles que nos apressam, são eles que nos oprimem. A principal ideia da modernidade é a fantasia de sempre mais. Viver intensamente na modernidade é viver com o coração palpitante, numa ansiedade constante de tudo. Um mais que é menos, menos tempo, menos comunicação real, menos contato e o risco de ser menos amor. O menos hoje é muito mais do que imaginamos. A simplicidade de hoje não é andar de pés descalços, apenas, é descalçar-se de ideais impregnados. Esses não saem facilmente. É um processo de tirar camadas e mais camadas. É um parar e relaxar, e isso já é contra a corrente. É um parar e contemplar, e isso já é revolucionário. Pois ao redor nos pedem consumo, luta e produção. É ouvir o outro, a natureza, simplesmente, com ouvidos bem abertos. É voltar àquele ritmo de pele enrugada de Sol, àquele ritmo de pés sujos de terra, àquele ritmo de terra. Aquele ritmo em que a respiração se permite ser tranquila, os pensamentos serem profundos e a alma tem tempo para o céu, para as plantas, para os olhos, para a lua, para a arte, ou para o nada, para, simplesmente, a apreciação calma da Vida.
(Tales Nunes)