por Tales Nunes
A palavra “Yoga” é usada para definir o caminho que se trilha, o caminho do autoconhecimento, e ao mesmo tempo o objetivo final dessa busca. Todos nós, essencialmente, buscamos a mesma coisa. A busca pode estar floreada por diferentes enfeites, mas a busca fundamental de todos nós é a felicidade.
O ser humano é uma preciosidade. Precisamos reconhecer primeiro o que é esse ser humano e depois a preciosidade ele é. Fisiologicamente o ser humano não é diferente dos animais. As proteínas que compõe o meu corpo não são tão diferentes das proteínas que compõe uma alface. Drogas que funcionam no sistema nervoso de um rato, funcionam igualmente no nosso. A preciosidade humana é o fato de ser auto-consciênte, auto-evidente. Essa auto-consciência nos dá a liberdade de escolher. A todo momento estamos escolhendo. Podemos resumir toda a vida a escolhas. Do que comer, do que ver, do que escutar, do que vestir. O ser humano, dentro daquilo que ele conhece, pode ser e desejar qualquer coisa. Esso é o que nos torna seres humanos tão diferentes culturalmente uns dos outros.
O que há em comum no ser humano, seja ele de qualquer parte do mundo, dentro de qualquer cultura, é a busca pela felicidade. Todos nós buscamos a felicidade. Essa é uma fórmula essencial para a compreensão da conduta humana. As nossas ações são direcionadas a esse fim. Seja na busca por experiências com drogas, seja nos nossos relacionamentos amorosos, na aquisição de bens materiais, o pano de fundo dessas ações é a busca por felicidade.
Essa felicidade, porém, parece ser impossível de ser alcançada. Logo que conquistamos algo que nos deixa feliz, segue um receio de se perder o que foi conquistado, ou simplesmente a mente se entendia. Nessa busca, então, sintimo-nos frustrados, pois não nos contentamos com uma pequena alegria momentânea. O que queremos, de fato, é a felicidade plena, mas buscamos no lugar errado.
É aí que entra o Yoga (como tudo o que vai nos apoiar na compreensão do Conhecimento) e o Vedanta (como meio de conhecimento). Vedanta nos fala que nós já somos a plenitude que nós buscamos. Vedanta é o conhecimento contido na parte final dos Vedas (Upanishads) e que nos fala sobre esse Ser ilimitado que nós somos. Fala sobre essa busca fundamental, que é a busca por moksha, como alcançar esse fim, e qual o ganhos que advém disso.
A nossa real natureza é consciência e plenitude. E essa é a razão de não nos contentarmos com menos do que isso. Não nos contentamos com menos do que somos, queremos esta mesma grandeza, só que de fato nunca a encontraremos em experiências. O que falta no ser humano é um reconhecimento, reconhecimento de que a plenitude e a felicidade que buscamos em situações e experiências nós já somos. É uma mudança de olhar, de foco. E a solução para essa realização não é uma ação, pois toda ação é limitada e traz resultados limitados. O que é necessário é um conhecimento. Um conhecimento do eu ilimitado que sou, além do complexo corpo, mente.
Fundamentalmente, realização pessoal, liberdade, ou moksha, o objetivo da vida humana de acordo com Vedanta, é esse reconecimento. Porém, podemos dizer que, relativamente, já é um grande ganho descobrir que eu sou a fonte da minha felicidade (não no sentido egoísta, no sentido mais profundo) e que os objetos ao meu redor não têm qualidade de felicidade, mas apenas fazem com que eu relaxe e abra mão momentaneamente das minhas expectativas, das projeções para o futuro, da mania de me comparar com os outros e da minha sensação de limitação. Essa percepção já me torna mais atento dentro dos papeis sociais que eu cumpro, evitando com que eu queira sempre extrair a minha felicidade das relações e do mundo.
É importante reconhecermos que apesar de ser um processo compreensivo, moksha não se dá instantaneamente. Para a maior parte das pessoas é um processo. Apesar de fazer todo o sentido, não é simples reconhecer que somos a felicidade e a paz que buscamos, sobretudo se sequer tenho uma paz relativa. É preciso descobrir uma paz relativa para compreender que sou a paz absoluta. Para isso, o Yoga é um apoio. Para muitos pode incluir o que nós conhecemos como Hatha Yoga: asana, pranayama, mudras, meditação, mas necessariamente tem que passar pelo que é apresentado nos sutras de Patanjali e também na Bhagavad Gita: que é a importância do questionamento e do desapego, o reconhecimento do valor que os valores têm na minha vida, a atenção nas ações e uma postura compreensiva diante do resultado destas ações. Ou seja, é toda uma vida de Yoga que é proposta nesses dois textos.
E nessa Vida de Yoga é necessário coragem, disciplina, auto-estudo, desapego, pois precisaremos lidar com apegos, condicionamentos, “traumas”. E talvez seja importante, nesse processo, procurar ajuda terapêutica, dependendo da intensidade das emoções e dos “nós” que são mexidos. As vezes estamos tão imersos em nossa ilusões que não conseguimos ver as situações com clareza. E só de expressar essas situações para uma outra pessoa já nos ajuda a nos organizarmos, a nos reconstruirmos. Mas os textos de Yoga, em si, nos falam sobre nós mesmos e as reações da nossa mente e nos ajudam a nos enxergamos com mais clareza e compreensão. Ao estudarmos os sutras de Patañjali, por exemplo, temos um claro e objetivo mapa da psique humana, mais profundo e antigo do que qualquer tratado psicológico ocidental.
Todo e qualquer tipo de apoio usado no caminho do autoconhecimento faz parte de uma Vida de Yoga que irá conduzir, junto com o estudo de Vedanta, à compreensão de quem realmente Somos, e ao reconhecimento do ser humano, de nós mesmos, como uma preciosidade. Esse é o objetivo desse estudo que está contido nos Vedas.
Tales Nunes