• Search
  • Lost Password?
Yoga, Poesia, cursos, reflexões, pensamentos

Que inversão as posturas invertidas sugerem?

Muito se fala sobre a possibilidade de inversão de perspectiva nas posturas invertidas do Yoga. Mas que mudança de perspectiva é essa?

No olhar do Yoga, o pensamento verbal e imagético, formas a partir das quais interpretamos a realidade e criamos uma ideia de eu, está localizado na cabeça. A cabeça, o cérebro, seria o lugar do pensamento. Nós pensamos com o corpo inteiro, mas o pensar associado à interpretação verbal e imagética do mundo, teria lugar no crânio.

Por isso apontamos para a cabeça como uma forma de dizer que pensamos. No Yoga, porém, o pensamento não é o centro do eu, da identidade. Além do pensamento, existem as emoções, além das emoções o sentimento, além do sentimento a vacuidade luminosa, a pura presença.

Inverter o sentido do corpo em relação à gravidade é mudar radicalmente o sentido de enraizamento. Nossos pés são as raizes quando estamos em pé, a cabeça é o topo da montanha. Quando invertemos, mudamos nossa relação com a gravidade. A cabeça deixa de ser o que está acima de tudo, para se tornar aquilo que está em contato com o chão. Húmus, humildade. Humilde é aquele que está mais próximo de húmus, da terra. Ou seja, o pensamento se curva ao sentido da terra. O pensamento se curva à sua origem. O ego reconhece algo maior do que ele mesmo.

Além disso, atualmente, nos expomos demasiadamente à nossa própria imagem. Antes víamos nosso rosto apenas diante dos espelhos. Então as câmeras começaram a mostrá-lo. Inicialmente uma câmera era um dispositivo para fotografar ou filmar o mundo. Quando fiz meu primeiro curso de fotografia, nós saíamos para a rua para fotografar a cidade e as pessoas, com uma quantidade limitada de filme e de dinheiro para revelá-los. Nessa época, geralmente tínhamos fotos nossas tiradas pelos outros. Hoje a câmera se tornou um dispositivo para se filmar e se fotografar o tempo inteiro, sem limites. Os olhos das câmeras, hoje, apontam menos para o mundo e mais para o próprio rosto. Por isso, vemos nosso rosto muito mais do que víamos antes, consequentemente, nos vemos muito menos.

Nossa identidade não é a forma do nosso rosto, medido a partir de um padrão estético. Assim como o pensamento não é o eu, a forma estética do nosso rosto não é nossa identidade.

Nossa identidade não é a forma do nosso rosto, medido a partir de um padrão estético. Assim como o pensamento não é o eu, a forma estética do nosso rosto não é nossa identidade. Nosso rosto é uma das partes de nossa expressão total. A cabeça é um centro especial de captação do mundo, os ouvidos, os olhos, o nariz e a boca estão aí. Mas grudar a identidade à forma é um engano que gera muito sofrimento. Ao grudar nossos olhos em nosso próprio rosto, como Narciso, perdemos de viver a vida.

Inverter a perspectiva, nesse sentido, é desgrudar o senso de identidade da forma para o sentido de existência. Assim como a cabeça não é o centro do mundo, o rosto não é o centro da nossa identidade. Ao brincarmos com essa percepção na prática de Yoga, aprendemos a brincar com a Vida, com a nossa experiência de estar no corpo, com o nosso sentido de estar no mundo.

Tales Nunes

Written by
Tales
View all articles
Written by Tales

Cursos 2025