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Fala-se muito hoje de uma crise ética. Sim, há, mas sempre houve, pois o ser humano se equivoca desde que é ser humano. Em épocas de mensalão e de dinheiro escondido nos lugares mais inusitados, faz-se necessário uma reflexão sobre a importância da ética. Ou melhor, sobre o valor da ética.

A ética é lei (ou o Dharma é Ishvara)

Fala-se muito hoje de uma crise ética. Sim, há, mas sempre houve, pois o ser humano se equivoca desde que é ser humano. Em épocas de mensalão e de dinheiro escondido nos lugares mais inusitados, faz-se necessário uma reflexão sobre a importância da ética. Ou melhor, sobre o valor da ética.

por Tales Nunes

Fala-se muito hoje de uma crise ética. Sim, há, mas sempre houve, pois o ser humano se equivoca desde que é ser humano. Em épocas de mensalão e de dinheiro escondido nos lugares mais inusitados, faz-se necessário uma reflexão sobre a importância da ética. Ou melhor, sobre o valor da ética.

Quando nascemos, o mudo já estava pronto. Aportamos num mundo que é dado. Nós não escolhemos onde queremos nascer, os pais que queremos ter, o útero que iremos passar, seja sete, seja nove meses. Não temos escolha, é dado. Esse é um primeiro ponto que parece ser trivial, mas é fundamental essa compreensão, seguido de um entendimento subseqüente. O fato de que esse mundo que nos recebe possui leis. Não me refiro aqui apenas às leis humanas. São as leis que pertencem ao Universo, uma inteligência intrínseca a ele. Existem leis que regulam o meu corpo, a minha mente, assim como os oceanos, os astros. É por isso que é possível prevermos certas coisas na natureza, é isso que permite conhecermos o mundo. Se não houvesse previsibilidade não haveria conhecimento. É possível prevermos eclipses e a posição futuras de planetas. É possível saber que se tomo uma semente de girassol nas minhas mãos, coloco-a sob a terra fertilizada e ofereço-a água diariamente, dali há poucos dias uma pequena plantinha romperá, com sede de luz, a semente e  crescerá dali uma bela flor. Isso é previsibilidade, inteligência e nos mostra que existe uma ordem, ou melhor, ordens no Universo.

Essas leis que governam o universo são infalíveis, por isso são leis. Se fossem falíveis não seriam leis. Vivemos dentro dessa ordem, fazemos parte dessa ordem, queiramos, reconheçamos ou não. Essa ordem faz do ser humano o único ser que tem a capacidade de desejar qualquer coisa. Somos a única espécie no mundo que não é totalmente programada, temos um certo grau de liberdade, de livre arbítrio, o que nos permite querer e desejar até o impossível. Os animais vivem e se comportam de maneira presumível, dentro do que foi programado para eles. Existe uma capacidade de adaptação, mas é limitada. Um gato não come alface, um gato caça. Não adianta brigar com um gato porque ele está caçando insetos dentro de casa ou passarinhos no quintal. Faz parte da natureza do gato caçar, mesmo que não esteja com fome.  Nós, no entanto, temos a capacidade de fazer escolhas. Essa capacidade é um poder, um mérito. Mas, se não for usado com ética, pode ser um grande produtor de sofrimento.

Todos nós somos pessoas idealmente éticas. Sabemos muito bem o que é correto e o               que é errado. Não queremos que ninguém se comporte de determinada maneira. Não desejo que outras pessoas tirem proveito de situações em cima de mim.  Ninguém admite ser roubado, ninguém admite ser violentado. A indignação que sentimos quando alguém age assim conosco indica-nos que possuímos esses valores em nós, é natural. Essa ética é universal. Nem os animais desejam ser maltratados e se defendem frente a situações de risco. A questão é que os valores estão pela metade dentro de nós, exigimos que os outros ajam adequadamente, porém quando somos colocados à prova, não fazemos o que exigimos dos outros. O conflito ético surge apenas quando temos um valor por uma coisa, queremos conquistá-la, mas entre eu e a minha conquista surge um impedimento. Esse impedimento é o correto a se fazer, o fato deu ter que ferir a ética para alcançar o que eu quero. Neste ponto tenho duas escolhas. Abrir mão do que desejo conquistar, ou passar por cima da ética e realizar o que desejo.

Um ser humano “ternoso” – camufladamente vestido de terno – que está sentado em cima de uma cadeira em Brasília é um ser humano comum – pode, inclusive, estar dotado de uma hemorróida terrível – mas, pelo posto que ocupa, torna-se poderoso. Ele está sendo pago para fazer um trabalho, não faz o trabalho e tira vantagem da situação que está, seja pelo uso do poder, seja por se apropriar indevidamente do que não lhe pertence. Tirar vantagem dessa situação é corrupção. É contra a ordem do Universo, porque ele está ali para cumprir um papel que todos esperam que ele cumpra. Mas ele não cumpre e é levado por uma inebriante ilusão.

É preciso haver muita clareza quando se cumpre um papel deste porte, há discussões acerca do assunto desde Sócrates. A pessoa precisa ter um conhecimento muito claro, um reconhecimento muito claro. Essa pessoa precisa compreender a imensidão das leis que regem o Universo e as conseqüências das suas ações não apenas sobre os outros, mas, sobretudo, sobre ela mesma. Uma educação, uma compreensão ética é necessária.

Quando a pessoa rouba, ela reconhece muito bem o valor do dinheiro que está roubando. Sabe que pode comprar uma lancha pra passear, que comprará um carro bonito e confortável. Mas essa pessoa não reconhece a perda, o preço que ela vai pagar por fazer o que é incorreto. A pessoa certamente pode escapar das leis humanas, mas não tem como fugir das leis universais. O resultado imediato de fazer o errado é a culpa. E essa perda é muito grande, é a perda de si mesmo. É a perda da paz e da felicidade.

Quando existe uma pressão interna na pessoa em busca de prestígio, de fama, de reconhecimento e especialmente de dinheiro, que naturalmente traz as outras, a pessoa supervaloriza o dinheiro. Imagine-se num jogo de banco imobiliário, todos sabem que aquele dinheiro não vale nada. Se a pessoa pegar essa nota e sair para comprar alguma coisa na rua, isso é supervalorizar aquele papel.  A mesma coisa acontece com o dinheiro de verdade. Essas pessoas que apareceram na televisão roubando o nosso dinheiro e que vivem sob ternos pomposos e discursos bonitos em Brasília acreditam que aquele dinheiro vai trazer tudo o que elas querem.

Dinheiro pode comprar casa, mas não um lar, pode comprar um livro, mas não o faz ler, pode comprar música, mas não o faz apreciá-la, pode trazer companhia, mas não afasta a solidão. Dinheiro pode prover muita coisa, mas não compra o amor e o respeito do seu filho, por exemplo. Não compra paz. É fato que as melhores coisas no mundo o dinheiro não compra, caso contrário não teríamos tantos ricos deprimidos e infelizes. O dinheiro tem valor, é necessário e é importante ser usado. O erro é a supervalorização dele. Sobretudo trocar o valor pela ética, pelo valor pelo dinheiro. Esse é a grande equivocação hoje em dia e não é só dos políticos, é uma quimera coletiva.

O problema maior é que essas pessoas, pela visibilidade que têm, acabam servindo de modelo de conduta. “Eles fazem, eu posso fazer também”, muitos que os assistem assim concluem para si mesmos. É importante reconhecermos claramente que eles não são bem sucedidos, pelo contrário, são fracassados. Não são inteligentes, sequer espertos, são idiotas, imbecis engravatados. Vivem dentro de si uma guerra civil, por saberem o que se deve fazer e fazerem exatamente o contrário. São pessoas divididas, podem estar com as meias e calças cheias de dinheiro, mas são endividadas com elas mesmas, está estampado em suas faces forçosamente desavergonhadas, seus olhos fugidios e distantes. São mentes infantis em corpos decadentes. As suas atitudes são lamentáveis, de fato, são idiotas. Idiota não são as pessoas de quem o dinheiro foi tirado, nós, idiota é quem rouba, porque não tem a maturidade necessária para perceber que no fundo ela roubou dela mesma. Roubou a sua paz, roubou a sua possibilidade de estar tranqüilo e em paz com os outros e consigo mesma.

Não que devamos nos resignar achando que nada devemos fazer porque o Universo já faz. Não, pelo contrário, temos todos a liberdade e o direito de tentar restituir a dignidade na sociedade, que somos nós mesmos. E há duas formas de fazermos isso. Primeiro, mas menos importante, assumindo o dever de, pelo menos, tentar fazer cumprir as leis judiciais para essas pessoas. Se até isso estiver fora do nosso alcance podemos fazê-las se sentirem envergonhadas publicamente em frente a seus filhos e parentes, condenando veementemente os seus atos, como estão fazendo através de protestos diversas pessoas em Brasília. Segundo, porém o mais importante, estando sempre atentos à nossa conduta pessoal, comprometidos com a verdade e a ética nos nossos deveres, reconhecendo a sua importância para os outros e especialmente para nós mesmos. Pois, pensemos bem, se cada um de nós cumprir os seus deveres com ética, seriedade e devoção, ninguém precisará cobrar de ninguém. Pode parecer utopia, talvez, mas não é utopia eu fazer a minha parte, é completamente palpável.

Tales Nunes , 04 de dezembro de 2009.

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