por Tales Nunes
O Dharma é aquilo que nos cabe fazer a partir do que nos tornamos. A pessoa que somos hoje é fruto do resultado de ações que fizemos e das escolhas que não fizemos.
O compromisso principal do Yoga não é com o ásana, mas com a criação de uma vida a partir da beleza. O ásana é uma das práticas para manter a harmonia dos movimentos vitais no corpo. A criação do belo se dá a partir da interação do nosso corpo com a vida. Pensamento, palavra e ação criam um campo ao nosso redor, uma dimensão, uma atmosfera física e simbólica.
Ser o melhor que se pode ser é a emanação. Cultivar a percepção, cultivar a força vital para se estabelecer na sensibilidade. Ir para o mundo a partir desse chão, em prol do que é harmônico e belo, como Arjuna. Nunca esquecer quem se é para poder se entregar ao que não é. Lembrar e acolher quem somos nos lembra nosso papel no mundo. Nosso papel no mundo nos lembra quem somos.
Na Gita, quando Arjuna perde o chão, esquece quem ele é e o seu papel no mundo, ele diz: “o arco cai da minha mão, minha pele está queimando, não sou capaz de ficar em pé e minha mente parece girar”. As palavras de Krishna, em seguida, tentam fazer com que ele lembre quem ele é: “abandonando a fraqueza negativa do coração, levante-se, Arjuna!”.
Sempre que escuto uma música específica do Chico Science, ao som poderoso dos tambores, é para mim uma lembrança do Dharma, como as palavras de Krishna na Bhagavad Gita. Na música Samba Makossa, Chico Science canta, na gravidade de sua voz, como uma evocação:
“Samba maioral, onde é que você se meteu antes de chamar na roda, meu irmão?
A responsabilidade de tocar o seu pandeiro é a responsabilidade de você manter-se inteiro. Por isso chegou a hora dessa roda começar, samba makosa da pesada, vamos todos celebrar!”.
Escute! Levante-se!
(Tales Nunes)