É uma mesma voz que nos fala
É uma mesma voz que nos fala sobre as incertezas de um mundo veloz. Sobre uma força guiada por poucos e por ninguém, que atropela vidas e as empurra para o nada.
É uma mesma voz que nos fala, a ouvidos interconectados, mas interdistantes. Uma voz que muitos não ouvem claramente, mas sentem, no palpitar do medo, na distância da solidão, na liquidez do próprio chão.
É uma mesma voz que cria olhares julgadores, a medir a riqueza pelo que se tem nos bo-lahos e não no coração ou na cabeça. Uma voz que não permite parar, tampouco andar em contemplação e faz da vida uma corrida desenfreada em busca de algo que não se sabe ao certo o que é, tampouco para que é.
É uma mesma voz que dita um modelo de sucesso, de beleza e de vida ideal, praticamente impossível de se alcançar. E à medida que o faz, ajuda a excluir e a incutir ainda mais insatisfação, medo e insegurança.
É uma mesma voz que cria ecos de dúvida e de engano em corações em busca de um sentido mais amplo, mas que se encontram presos em promessas de felicidade em consumo, riqueza, acúmulo. Corações que, mesmo que inconscientemente, buscam algo maior, mais significativo, buscam a si mesmos, mas não encontram por procurarem na direção oposta.
Essa mesma voz que oprime, cria reação e faz gritar um coro de contravoz por mudança. Um grito a silenciar e substituir a voz opressora por gemidos e sussurros de amor. Por um olhar que se volta para si mesmo, para encontrar-se, e amplia-se retornando ao outro com um olhar mais seguro, firme e amoroso. Um olhar que vê em si mesmo o infinito e abre espaço para a liberdade, para a contemplação, para o compartilhar, para a humanidade e o reconhecimento do sagrado em toda a existência. Nesse movimento faz surgir novas vozes, a partir de novos olhares, mais iluminados, mais encantados e encantadores, que são como faróis indicando sentidos alternativos em meio a escuridões. Pois, nos tempos de hoje, novos olhares, e sobretudo o amor, são resistência a uma visão desencantada da vida.
Salve todos os pensamentos alternativos, todos os inconformados. Os que sustentam a estrutura com uma das mãos, pois nela precisam se sustentar, mas com a outra esculpem, desenham, pintam, escrevem novas formas de viver a vida, com mais beleza, mais humanidade, mais amor.
(Tales Nunes)