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Essência da Bhagavad Gītā – capítulo VII

Capítulo VII – O Conhecimento e a firmeza do Conhecimento

Este capítulo é o primeiro dos seis que falam sobre o Todo, Īśvara. Começa neste e vai até o capítulo XII. O capítulo começa com Kṛṣṇa anunciando o que irá ensinar a Arjuna.

“Ó Arjuna, com sua mente concentrada em mim, unido-se ao Yoga, tendo a mim como refúgio, escute esse ensinamento sobre como você, livre de dúvidas, deve me conhecer totalmente” ( I )

Aquilo que sou eu é livre de limitação, é eterno, é a consciência, que é Brahman que é a base da criação, de onde toda a criação vem. Mas ao mesmo tempo surge a seguinte pergunta: quem é o responsável por essa criação? O que existe além desse Ātma que é Brahman que é a causa da criação? Quem trouxe isso tudo?

Eu sei que não foi eu e que eu não sou responsável pela criação, portanto acredito que nenhuma pessoa igual a mim será também. Nenhuma pessoa sentada em algum lugar tem a capacidade de produzir essa criação, na criação existem coisas que não somos capazes nem de imaginar.

Como uma pessoa com um intelecto limitado como o meu vai ser capaz de produzir isso tudo? Parece ser impossível. Então será que existe esse criador? Quem é ele? Onde ele está?

A partir dessa pergunta fundamental, outros questionamentos surgem. Se eu sou absoluto e ele também é então são dois absolutos? Será que existe um criador? Será que eu acredito que existe um criador? Outra pessoa diz: eu não acredito em Deus. Um acredita e outro não acredita. O que quer dizer acreditar em Deus?

O que é acreditar?

Vamos supor que eu diga aqui, gente vocês precisam conhecer Florianópolis , é uma cidade maravilhosa, viver lá é tudo de bom. Vocês não conhecem Floripa ainda, mas se alguém pergunta sobre Floripa vocês podem dizer também que Floripa é especial. Vocês acreditam que Floripa é especial porque ouviram falar muito bem dela. O acreditar é um conceito que se tem antes do conhecimento. Antes do conhecimento eu acredito ou não acredito. Mas esse acreditar está suspenso até que haja o conhecimento.

Se sai um artigo numa revista algo que um cientista qualquer publicou a gente acredita, acredita porque é uma grande revista e porque é um cientista com doutorados e p.h.ds. Então achando que essa pessoa sabe mais sobre aquele assunto eu acredito, mas verdadeiramente eu não sei explicar o porquê.

Se vem outro cientista e diz que é tudo o contrário eu mudo totalmente o meu discurso porque passei a acreditar na nova pesquisa. Saímos por aí acreditando. Esse acreditar é uma atitude que eu tomo de confiança até que o conhecimento complete.

Quando você conhecer Floripa o que terá não será uma crença que Floripa é especial. Saberá que ela é uma excelente cidade linda porque a conheceu e esteve lá.

Será que Deus é um assunto para acreditar? Ou para conhecer? Vejamos.

Será que existe uma causa para essa criação?

Qualquer objeto nesse mundo, nós sabemos que alguém criou e produziu. Será que dizer que eu acredito que alguém criou um computador é correto? Será que eu posso dizer que eu acredito que eu tenho alguns tataravôs? Eu nunca vi, não sei nem o nome, então como eu posso dizer que eles existem? Eu não acredito que ele exista, eu tenho a certeza que ele existe, porque senão eu não estaria aqui.

Qual é a lógica para dizermos que ele existiu? Ele existiu porque eu estou aqui.

A pessoa que produziu um computador é a causa de eu acreditar? Não. É uma causa de conhecimento, eu sei que existe alguém que criou um computador. Dessa forma eu penso: tem que existir uma causa para essa criação, tem que existir um criador para essa criação.

Para criar um harmônio foi preciso de uma causa inteligente e uma causa material.

Existem duas causas para a produção de qualquer coisa que exista no Universo, a causa material e a causa inteligente.

Dessa forma, com a lógica que a gente possui, a gente imagina que existe um Deus. Ninguém nunca viu esse Deus, então é melhor que ele fique longe, no céu. Como ele não está aqui, a gente diz que ele esta lá no céu para resolver o nosso problema e ainda dizemos que esse Deus lá do céu criou a terra. Depois que ele criou acho que ele continua lá, porque aqui tem tanta confusão e ele não faz nada. Aceitar esse conceito de Deus para uma pessoa que tem um mínimo discernimento é muito difícil.

Nos Vedas esse Deus que é chamado de Īśvara porque Īśvara quer dizer aquele que tudo governa. Esse Iśvara é a causa material e a causa inteligente ao mesmo tempo. Toda causa existe nele. A criação se manifesta em uma lógica, em uma ordem na qual tudo tem um porquê. Todo o universo é o corpo desse Īśvara.

Aqui não é uma questão de um Deus sentado em algum lugar comandando esse espetáculo. Não é uma pessoa como nós.

Como que eu me relaciono com esse Īśvara? A primeira coisa é saber que meu corpo e minha mente fazem parte dele porque não existe nada fora dele. O nosso ego acha que existe o mundo todo e eu. Mas quando eu digo o mundo inteiro, se é o mundo inteirinho eu estou dentro desse mundo.

Como eu posso ver então esse criador? Tudo o que você vê já é o criador.

O processo de ver é como se você estivesse de fora. Você vai ver Deus à medida que você entender a totalidade e você incluído nela, não separado dela.

Kṛṣṇa sobre isso nos seguintes versos:

“Não há outra causa além de mim. Em mim, todo o Universo é tecido, assim como um conjunto de contas num cordão”. (07)

“Arjuna, na água, eu sou o sabor. Sou a Luz na lua e no sol. Sou Om em todos os Vedas. No espaço, sou o som. Nos seres humanos, sou a característica humana”. (08)

“E na terra, sou a agradável fragrância, e, no fogo, o calor. Em todos os seres, sou a vida, e sou a austeridade em todos os ascetas”. (09)

“Conheça a mim, Arjuna, como a semente eterna em todos os seres. Sou o poder de discriminação naqueles que têm a capacidade de discriminar. Eu sou a inteligência nos inteligentes”. (10)

“E, dos fortes, eu sou a força, que é livre de desejo e apego. Nos seres, Arjuna, eu sou o desejo que não se opões ao dharma” (11)

No decorrer do capítulo Kṛṣṇa falará sobre a natureza do Todo, desde os elementos aos guṇas.

*Resumo feito por Tales Nunes a partir das aulas da Essência da Gītā da professora Gloria Arieira.

www.vidyamandir.org.br

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Tales
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