Capítulo X – as Glórias
Neste capítulo Kṛṣṇa apresenta-se como o Todo, como Īśvara. Tudo o que pode ser encontrado no Universo é ele. Todas as grandezas do Universo são ele mesmo. Devido a isso este capítulo é chamado de “as glórias”.
Todas as capacidades são manifestações de Īśvara. Não pertencem a pessoa, pertencem ao Todo. Se pensar com cuidado verá que ninguém tem controle sobre qualquer qualidade ou capacidade específica que se expressa em si mesmo. Suponhamos que uma pessoa tenha uma capacidade grande de concentrar. Não é sempre que ela tem. Existem momentos que a sua mente escapa e se distrai, apesar dela querer se concentrar. Isso quer dizer que a capacidade concentração é dada a ela, é um presente que ela usa.
Isso fica claro no verso 4 e 5:
“Capacidade de conhecer, conhecimento, ausência de ilusão, paciência, verdade, disciplina dos órgãos de percepção e ação, disciplina da mente, alegria, satisfação, nascimento, destruição, medo, ausência de medo, a não-violência, equanimidade, satisfação, ascetismo, generosidade, fama, má-reputação, [todos] esses diferentes tipos de expressão dos seres vêm somente de mim”.
Kṛṣna diz que está de maneira especial em vários objetos da criação e que se você puder olhar com cuidado verá. E diz que existem coisas que são especiais, que são mais facilmente reconhecíveis como o Todo. Pois essas coisas saem do comum e trazem encanto. Esse encantamento traz esse reconhecimento. Quando encantada a pessoa sai de si mesma. Ela esquece dos desejos, medos, conflitos e apenas vê a grandeza da beleza do Todo. Esse é um estado de samādhi, pois perde-se a noção de dualidade e a pessoa se reconhece como um com o Todo. “Nesses momentos, que você veja a mim”, diz Kṛṣṇa.
Kṛṣṇa diz, “entre todos os devas eu sou Viṣṇu”, porque é aquele que está em todo lugar e sustenta a criação. “Entre todos os corpos luminosos do universo eu sou o Sol”. No universo há vários focos de luz, mas o sol tem algo a mais, tem o calor, tem o brilho tem a presença evidente e intensa. “Eu sou aquele que é brilhante e que é o centro do universo”. Entre todos os lugares que tem água eu sou o oceano. Quando você está no meio do oceano você tem a sensação de algo sem limite, de algo grandioso. Entra constantemente água no oceano e o oceano permanece o mesmo. O oceano parece ser infinito em tamanho e profundidade.
Arjuna, no verso 17 pergunta a Kṛṣṇa:
“Ó senhor de todos os poderes, sempre contemplando-o, como posso conhecê-lo? E através de quais objetos você deve ser meditado por mim, ó Senhor?”.
Kṛṣṇa responde: “Ó Arjuna, eu sou o Eu que está no coração de todos os seres; eu sou o início, o meio e também o fim de todos os seres.” (20)
Então Kṛṣna começa a listar coisas importantes no mundo e lugares sagrados da Índia onde Īśvara pode ser reconhecido. Esses lugares são citados por serem lugares especiais que representam esse todo. Temos lugares desses no Brasil, belos, onde reconhecemos a natureza divina do Todo.
“Entre todas as montanhas eu sou os Himalayas. Entre os rios eu sou Gangā…”
O essencial é que em todo e qualquer lugar, você possa ver uma beleza e ela o encante. Se você tiver olhos atentos poderá ver a beleza, o infinito que é Īśvara em todas as coisas
Assim Kṛṣṇa quer dizer que qualquer lugar que você veja grandeza, riqueza, qualidades, um poder maior, ali verá o brilho dele, a presença dele ali. Não tente buscar o transcendental além dessas coisas. O transcendental está presente nestas coisas.
Seguem as palavras de Kṛṣṇa:
“E, Arjuna, eu sou aquilo que é a semente de todos os seres. Não há ser móvel ou imóvel que exista sem mim”. (39)
“Ó Arjuna, não existe fim para as minhas glórias extraordinárias. Porém esses detalhes sobre minhas glórias foram contados por mim como uma ilustração”.(40)
“Saiba que qualquer coisa que exista, que possua glórias, que tenha riquezas ou poder, nasce de uma parte de meu brilho”. (41)
*Texto escrito por Tales Nunes a partir das aulas da Essência da Gītā da professora Gloria Arieira.
