Capitulo XI – A visão Cósmica
O último verso do capítulo anterior conduz ao questionamento de Arjuna que inicia e dá origem a este capítulo. O verso é:
“Mas de que serve, ó Arjuna, para você, o conhecimento disso tudo? Eu permaneço sustentando todo este universo como uma parte de mim” (42).
Depois de Kṛṣṇa tanto falar sobre Īśvara, Arjuna continua querendo uma experiência. Ele não entendeu por completo o ensinamento. O ensinamento deve ser compreendido. O ensinamento não vai trazer uma experiência transcendental ou extra mundana, mas vai mostrar que toda experiência é divina.
Arjuna continua vendo-se como separado. Ele aprecia as coisas, mas não as reconhece como o Todo, incluindo ele mesmo. Arjuna quer ter a experiência do todo. Uma experiência especial, incomum.
Ele imagina que o todo e a forma cósmica de Deus é uma maravilha, linda, boa, bonita, campos de flores. Na idéia dele é isso uma coisa alegre, boa e feliz que vai preencher o seu vazio.
Para mostrar a forma cósmica, Kṛṣṇa cresce e tudo o que Arjuna vê para todos os lados é Kṛṣṇa. Onde tem a cabeça de Kṛṣṇa ele vê varias cabeças diferentes de vários seres. Vários braços, outros corpos e no centro do corpo de Kṛṣṇa ele vê o momento presente, ele vê a guerra , o campo de batalha , ele mesmo e Kṛṣṇa. Passado e futuro se fundem naquele momento único no qual aprecia a imensidão de Īśvara.
Ali Arjuna se vê naquele momento, ao mesmo tempo no futuro e no passado, ele está aqui e está lá. A forma cósmica inclui tudo e tinha que incluí-lo, mas ele não tinha essa ideia. Assim ele reconhece que o Todo inclui ele mesmo.
Ele vê também o passado todo, o jogo de dados, tudo o que aconteceu para trás e ao mesmo tempo ele vê o futuro, a guerra acabou e Duriodona morreu, Bhīṣma morreu. Ele enxerga o presente e o futuro acontecendo no mesmo instante e todas as formas de todos os seres, de todos os lugares no passado, no presente e no futuro. Enxerga as pessoas caminhando em direção a morte e diz: “Eu vejo pessoas caminhado para a morte como as mariposas que vão ao encontro da luz. Eu vejo as pessoas fazendo coisas que vão causar a sua própria destruição”.
Arjuna vê várias bocas e uma delas que ele viu ser a boca da morte, “as pessoas estão entrando naquela boca, elas estão sendo devoradas pela morte”, diz ele. Arjuna se desespera e acha aquilo terrível, ele esperava ver algo encantador, mas ele vê a realidade, que não é nem feia nem linda, é a realidade.
Ele enxergava as pessoas fazendo as ações e recebendo os resultados das ações, o karma. Ao mesmo tempo em que Arjuna diz que é impressionante tudo o que ele estava vendo, ele dizia que era apavorante, assustador.
Ele diz, “Tendo visto o que jamais foi visto antes, eu estou contente, e minha mente está tremendo de medo. Ó Kṛṣṇa mostre-me aquela forma. Ó Kṛṣṇa abençoe-me. ”. (45)
E continua no verso 46:
“Eu desejo vê-lo apenas como antes: com uma coroa, com uma maça, com um disco na mão. Seja aquela mesma forma de quatro braços, ó Kṛṣṇa”.
Kṛṣṇa então fala:
“Que você não tenha medo e que não fique confuso ao ver tal forma apavorante como essa minha. Livre de medo, satisfeito, de novo, veja esta minha forma” (49)
“Assim Kṛṣṇa, tendo falado desta maneira a Arjuna, de novo mostrou sua forma. E o grande senhor acalmou Arjuna, que estava amedrontado, assumindo de novo sua forma amigável” (50).
E Arjuna disse:
“Vendo esta sua forma humana, ó Kṛṣṇa, agora eu recuperei a tranquilidade da mente, retornando ao meu estado natural” (51)
A apreciação do Todo é trazida pelo conhecimento e os sábios a possuem. Mas mesmo tendo-as como visão, é demais para nós ver a realidade como um todo. Por isso nosso conhecimento do Todo é sempre parcial. Por isso criamos formas para lidar e para reverenciar as várias forças da criação.
*Resumo feito por Tales Nunes a partir das aulas da Essência da Gītā da professora Gloria Arieira.
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