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Yoga, Poesia, cursos, reflexões, pensamentos

A força poética e o florescimento

por Tales Nunes

A poesia não é opção tampouco esforço. A poesia é o mais puro impulso da Vida. A vida mesma é poesia manifesta em formas. Não há esforço no desabrochar de uma flor. O que há é a pura força da manifestação, que compõe potências e encantamentos naturalmente.  

Os versos são como flores. Eles simplesmente se manifestam em sua beleza e verdade. Não espere sentença dos versos, eles são cintilações, sopros do eterno em nossa consciência. Uma beleza momentânea expressa em toda a sua inteireza. Não espere moral dos versos. Sua grandeza é tocar o corpo, produzir intensidades que nos abrem, que nos causa tremulações de reconhecimento da força da vida em nós mesmos e ao nosso redor.

Toda essa força e beleza são expressões da chama da vida. Muitos de nós morremos antes mesmo de nascer. Não chegamos a nos apagar, porque sequer nos oferecemos como alimento para o fogo da Vida. Nos poupamos tanto que não vivemos. Tememos tanto que não nos arriscamos. Para escrever com vida é preciso aceitar a vida plenamente. Para viver com arte é preciso aceitar todas as potências que nos são reveladas nos caminhos da Vida. Viver é um risco que devemos desenhar com o peito aberto. Dar um passo em direção ao desconhecido é um risco, mas para quem realmente vive, não há escolha senão lançar-se em descoberta.

Escrever é causar vibrações. Algumas delas são tremulações de ruídos, conflitos que revelam a natureza das nossas diversas paixões. Outros são vibrações de silêncio e de profundidades amorosas que revelam a nossa natureza fundamental. A poesia amorosa rompe a barreira do silêncio e do som. Do dentro e do fora. São vibrações meditativas que criam uma abertura no olhar. Nos revelam que todas as forças da natureza estão em nós e nós somos tudo o que existe. É a poesia sagrada de todos os tempos. É a chama de vida que segue acesa ao longo das eras e permanece iluminando olhares, queima em tal intensidade que nos transforma em cinzas, tornando-nos leves o suficiente para que o vento nos carregue e nos mostre que somos tudo o que existe.

Essa é a poesia realmente revolucionária. A poesia que está além da religião, além do tempo e do espaço. É a poesia que nos une em nossa humanidade, independente de qualquer crença. Essas são as palavras sagradas que alguns transformam em moral e a reduzem a um tempo, a um espaço e sobretudo a interesses particulares de medo e de dominação. Enquanto o interesse dessa poesia é o mais simples, a liberdade humana, revelar a liberdade da natureza no homem.

Essa poesia é sustentada por todos os sábios que as compuseram, por suas consciências eternas. Seus cantos permanecem como vibrações no espaço Universal, como orações que nos tocam quando entramos em contato com elas, seja em livros, em recitações ou em vislumbres silenciosos de acesso a seus sentidos sutis. Essa poesia eu reverencio com todo o meu coração como a mais sublime literatura já cantada. Pois através de seus versos vemos o universo inteiro refletido em nossas consciências.

O êxtase desse reconhecimento não é opção, é o mais puro impulso da vida, é florescer.

Tales Nunes

 

*Imagem de Vrindavan Das

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Tales
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