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Sentar em círculo

por Tales Nunes

 

Sentar em círculo já não é mais comum entre nós. Curvar-se à terra é sinal de humilhação e não de humildade. A terra ficou pequena, não porque nosso conhecimento ampliou, mas porque nossa pretensão de poder se tornou maior do que o nosso respeito. O tempo se tornou linear, porque nossas mentes ficaram quadradas. Por isso as curvas não são apreciadas tampouco compreendidas, pois elas pedem mais calma e menos pressa. Toda dança é curva, círculo, giro, ciclo. O que haveria de ser a natureza senão uma dança perfeita em giros sagrados ao nosso redor. Mas nós insistimos em sair do círculo, com nossa ideia de separação, de divisão, de fracionamento. Com nossos ruídos, ficamos alheios, ficamos distantes, cada vez mais distantes um do outro e do Todo. Esquecemos que somos cânticos. Somos oração que a natureza compõe para que floresçamos juntos numa grande cerimônia que é a vida. Cada dia é uma celebração, uma possibilidade de encontro, de expansão e de comunhão. Olhe ao redor desse imenso círculo em que vive. Escute a prece do sol, escute o canto da lua, escute a melodia do mar, escute o que o outro tem a lhe oferecer, ofereça o seu silêncio como apreciação. Escute. Somos por demais fala e ruído. Escute. A natureza tem a lhe falar em cada ser que se manifesta em seu campo. Sentar em círculo já não é mais comum entre nós. Mas lembre-se constantemente, mesmo parecendo distantes um do outro, estamos intrinsecamente girando de mãos dadas num imenso círculo de olhar e de criação.

Tales Nunes

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