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Simbolismo de Lakshmi

Por Tales Nunes

Hoje Lakshmi é fortemente associada à riqueza material. Porém ela representa muito mais do que isso. Não apenas a riqueza material, mas a sorte, a saúde, a fertilidade e a riqueza mental, a riqueza interior.

Nascida do Oceano de Leite

Ela nasceu do Oceano de Leite. Para descobrir o néctar da imortalidade, devas e asuras juntaram-se para bater o Oceano de leite. Pegaram uma montanha colocaram no meio do oceano. Amarraram uma cobra no meio e cada um deles puxou de um lado fazendo a cobra como corda para que, assim, a montanha batesse o oceano de leite.  Começaram a bater e coisas lindas e maravilhosas surgiram desse oceano de leite, uma delas foi Lakṣmī que surgiu sentada em numa flor de Lótus. Quando ela apareceu, os deuses ficaram encantados, os Gandarvas tocaram e cantaram em sua homenagem, enquanto os Apsaras dançaram ao seu redor. Ganga a seguiu, enquanto elefantes banhavam-na com água.

Reproduzo aqui um belíssimo poema do Ramāyana (traduzido por Griffith e extraído do livro “the Book of Devi”) que descreve esse momento:

“When many a year had fled

Up floated, on her lotus bed,

A maiden fair, and tender eyed

In the young flush of beauty’s pride.

She shone with pearl and golden sheen,

And sea-lah of glory stamped her queen.

On each round arm glowed many gem,

On her smoth brows a diadem.

Rolling in waves beneath her crown

The glory of her hair rolled down

Pear-lah on her neck of price untold,

The lady shone like burnished gold.

Queen of the gods, she leap to land,

A lotus in her perfect hand,

And fondly of the lutos sprung,

To lutos-bearing Viṣṇu clung,

Her, gods abover and men below

As Beauty’s Queen and Fortune know.”

 

Nesta história, que ilustra o seu nascimento, o Oceano de Leite representa a mente purificada. Portanto, Lakṣmī é aquela que nasceu da mente purificada, simbolizando, assim, as riquezas dessa mente purificada. Hoje Lakṣmī é fortemente associada à riqueza material. Porém ela representa muito mais do que isso. Não apenas a riqueza material, mas a riqueza mental, a riqueza interior.

Outras formas conhecidas de Lakṣmī são:

Rājyalakṣmī – é a companheira dos reis e governantes. Protege-os enquanto estes se mantém no caminho da verdade e da justiça e os abandona quando estes esquecem os seus deveres como governantes.

Jayalakṣmī – representa a vitória, que muda de lado quando deseja. Mostra que nunca se ganha sempre.

Vijayālakṣmī – está associada ao sucesso profissional;

Vīryalakṣmī – relacionada à força e coragem.

Gṛhalakṣmī – representa o bem estar no casamento;

Yaśolakṣmī – é a deusa da fama;

Santānālakṣmī – representa a prosperidade relacionada aos filhos e netos;

Vidyālakṣmī – prosperidade relacionada ao conhecimento;

GajaLakṣmī – relacionada aos elefantes, representando todos os outros animais;

Dhānyalakṣmī – representa a prosperidade relacionada ao alimento;

Dhanalakṣmī – está relacionada à riqueza material;

Ādilakṣmī – está associada à causa do universo, aquela que sustenta o Universo;

O nome de Lakṣmī é associado a todas as virtudes femininas na tradição Hindu. As jovens esposas são comumente chamadas de “Lakṣmī” na esperança de que ela trará fortuna para a casa.

Lakṣmī é reverenciada durante todo o ano em diferentes festivais em cidades e vilas por toda a Índia. Mas o festival mais importante associado a ela é o Divali, quando ela é invocada para trazer saúde e prosperidade para a casa de seus devotos. Muitos devotos de Lakṣmī ficam acordados durante toda a noite com as portas e janelas de suas casas abertas para que Lakṣmī entre e os abençoa com a sua presença. Como a deusa está associada à fortuna e à prosperidade, comerciantes reverenciam seus livros caixa nesse dia.

Iconografia

Elefante – representa o poder, a força e a boa sorte e alegria. Lakṣmī traz a boa sorte, a auspiciosidade, a prosperidade.

Ela está sentada no lótus – está sentada no conhecimento.

É dito também que ela está aos pés do sábio, como alegria, paz, sorte, sabedoria.

 

Mantra

Oṁ śrī lakṣmī ki jay


Curiosidades

As deidades femininas há muito tempo são louvadas, desde os Vedas. Lakshmi não é uma deidade védica, porém Ushas e Saraswati desde os Vedas são cantadas e adoradas. A adoração a deidades femininas traz sempre implícito o reconhecimento das forças da natureza enquanto fertilidade e poder de criação. Em certo sentido representam a Prakrti, o poder de criar, e a própria Terra, que nos provê com tudo o que necessitamos. Refletiremos a seguir sobre outras deidades femininas, não apenas da cultura védica, mas também da grega, e especularemos associações entre elas.

Afrodite

Afrodite é a deusa grega do amor, da beleza e da fertilidade. Especula-se que Afrodite é uma deidade com características Orientais e o seu culto teria sido introduzido na Grécia pelos fenícios. Afrodite, segundo alguns teóricos, parece ter derivado de alguma divindade hitita que por sua vez derivou da semita Astarot ou Astarte. Existem diferentes versões para contar o nascimento de Afrodite. Numa delas, conta-se que Cronos castrou seu filho, Urano, e jogou no mar o seu falo. O mar começou a ferver e espumas surgiram fazendo com que Tálassa, deusa do mar, fecundasse. Das espumas do mar, então, nascia Afrodite, a deusa do amor. Vimos que Lakshmi também nasceu do Oceano e na tradição védica é a deusa da beleza e das qualidades femininas.

Afrodite costuma ser acompanhada de um cortejo de servidores e de servas que representam os encantos do mundo. Entre estas estão as Cárites, as Horas e as Oréadas. As Cárites são Deusas da dança, são as dançarinas do Olimpo; as ninfas são deusas do ano, das estações e da ordem natural necessária para a prosperidade na colheita; e as Oréadas são ninfas que acreditava-se viver nas montanhas, colinas e barrancos. As ninfas são divindades femininas que estão associadas à água e à terra. Da união entre estes dois elementos surge a força geradora de reprodução e da fecundidade. Nesse sentido as ninfas são a própria Terra (Gaia).

Cárites

Lembremos que Lakshmi igualmente está associada às qualidades femininas, à prosperidade, que também está ligada à prosperidade de alimentos e à fertilidade como qualidade feminina. E quando esta surge do oceano de leite, os Gandharvas (músicos celestiais) e as Apsaras (dançarinas celestiais) dançam e tocam em seu louvor, admirando a sua beleza, assim como acontece com Afrodite.

Apsaras

Apesar dessas semelhanças simbólicas, não temos maiores evidências de relação direta entre a origem de uma deidade e da outra. A seguir, porém, relações diretas são feitas entre a deusa grega Eos e a védica Ushas. A segunda provavelmente dando origem à primeira.

Eos

Eos
Eos

Eos é a Deusa grega do nascer do Sol. Eos é irmã do Sol (Hélios) e da Lua (Selene). Todas as manhãs é ela quem abre as portas dos céus, liberando caminho para a carruagem do Sol. Eos foi, para alguns estudiosos, provavelmente a deusa indo-européia do amor e da beleza, antes de perder sua importância para Afrodite, acima falada. Eos está relacionada à Deusa romana Aurora e especula-se a sua relação com a Deusa védica Usha.

Ushas

Ushas
Ushas

Alguns hinos védicos são dedicados a Ushas. É ela quem traz a manhã, é a Deusa da Aurora. Ela é descrita como uma bela jovem vestida com roupas que mudam de cor, assim como a Aurora, e usa diversos ornamentos dourados. A beleza que apreciamos ao alvorecer é Ushas. Ela é a filha do Céu, irmã da noite e amiga dos Ashvins. Por vezes aparece como a esposa do Sol ou como amante de Agni.

Algumas estórias contam que todas as manhãs ela aparece no horizonte em sua carruagem puxada por sete vacas. O sol, encantado com a sua beleza, segue-a cruzando os céus em seu encalço. Ushas, em muitas passagens védicas é associada à luz que remove a escuridão e as criaturas perigosas da noite e traz a prosperidade. Simbolicamente a luz representa o conhecimento, que ilumina a mente, revelando suas belezas. As criaturas perigosas da noite representam os condicionamentos e o lado inconsciente da mente, que pode nos aprisionar e nos fazer agir de forma a prejudicar os demais. Geralmente esses aspectos da mente são associados a emoções que nos fazem agir mecanicamente, como a raiva, a inveja. É necessário jogar luz sobre essas emoções, jogar luz sobre a mente para melhor conhecê-la e aprender a lidar com ela e descobrir as suas belezas, as suas riquezas.

Ushas
Ushas

Ushas talvez seja a mais louvada deidade védica feminina. Os versos dedicados a ela são tão belos quanto o que ela representa, o amanhecer.

“To meet Her glance all living creatures bend them down. Excellent One , She makes the Light. Ushas, Daughter of the Sky, the Opulent, repe-lah foes and enemies away”.

“Mighty One, whom the Rishees of olden times invoked for their protection and their help.
O Ushas graciously answer our songs of praise with bounty and brilliant Light”.

“They, bringing steed and kine, boon givers of all wealth have oft sped forth to lighten us.
O Ushas, waken up for me the sounds of joy, send us the riches of the great”.

Bending Her looks on all the world, the Goddess shines, widely spreading with Her bright eye Westwards.
Waking to motion every living creature, She understands the voice of each adorer.

“She hath appeared discovering Heaven’s borders, to the far distance She drives off Her sister.
Diminishing the days of human creatures, the Lady shines with all Her lover’s splendour.”

Tales Nunes

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