por Tales Nunes
Quando mergulho no instante, o que vejo é a contundência do movimento, a constante transformação, a atuação do tempo. Quando mergulho no presente, o que sinto é o mais antigo, o silêncio ancestral que tudo permeia. A tradição é ambos, constância e movimento, fundamento e ampliação.
Não sei o que seria de mim sem o Yoga. Uma prática e um conhecimento que me deram meios de escutar a vida, me ofereceram palavras e maneiras de explicar o que sinto, o que vejo e fizeram com que eu me visse e me bastasse no silêncio.
A minha reverência não é fé cega, é um profundo agradecimento por algo que me toca. Seja o Yoga na forma de uma fala, de um mantra, de uma aula, de um poema, de um olhar ou de um pôr do sol.
Costumo me referir ao Yoga como um saber tradicional. Mas o que é a tradição?
Eu olho para as estrelas e vejo uma presença irrefutável, um brilho próprio e comum, um silêncio perene, assim como enxergo e sinto uma história, um movimento que viaja no tempo e no espaço.
Eu olho para a minha mãe e para o meu pai, vejo uma presença, um brilho, um silêncio perene, assim como enxergo e sinto uma história, um movimento que viaja no tempo e no espaço.
Eu olho para o Mar, para uma árvore, para uma flor, vejo uma presença, um brilho, um silêncio perene, assim como enxergo e sinto uma história, um movimento que viaja no tempo e no espaço.
Eu olho para mim e vejo uma presença, um brilho, um silêncio perene, assim como enxergo e sinto uma história, um movimento que viaja no tempo e no espaço.
Movimento constante e profundidade inerente, isso para mim é a tradição. Isso para mim é o Yoga, um conhecimento profundo que aponta para o silêncio da Vida. O silêncio que permeia o tempo e que toca os meus ouvidos, a minha pele e os meus olhos agora, é o mesmo silêncio que os sábios escutaram há mais de quatro mil anos atrás. Não é preciso inventá-lo, não há como criar o que puramente é, que simplesmente existe. A poesia que nasce desse silêncio, como vida, como forma, como vislumbre, como canto, são sempre novas, sempre outras.
O Yoga como conhecimento ou como prática que aponta para o silêncio é pura poesia. Eu a escuto, eu a honro, porque ela desvela a quietude que sou. Porque ela é uma voz que me canta. Não é um passado morto, é um pulsar antigo, como um tambor que no compasso me indica.
O Yoga, para mim, é a percepção do silêncio que sou e da poética que me move, tradição em movimento, silêncio e canto. Yoga é o instante em que sou um pulso que sente o próprio fundamento, um canto em movimento amoroso, criando e sendo criado.
Tales Nunes