Por Tales Nunes
Quando olhamos para nós mesmos ao espelho, ou para a pessoa ao nosso lado, podemos nos perguntar: Em meio a essa materialidade óbvia que vejo, que se movimenta, argumenta, gesticula, onde está o que o anima, a anima, a alma? Em meio a tanta diversidade de cor, língua, credo, onde está a essência, o que é comum a qualquer ser humano.
Da mesma maneira, podemos nos perguntar, em meio a toda essa diversidade de rótulos, onde está o Yoga? Onde está a essência dessa filosofia, desse modo de vida, dessa visão de mundo que se faz cada dia mais popular e, podemos dizer, em moda no ocidente?
Diz-se que os olhos são espelhos da alma. Ou seja, que neles a alma é refletida. Mas não apenas isso, os olhos refletem a alma, mas, como espelhos, eles refletem também a alma por trás dos olhos que estão à sua frente. Realmente quando olhamos nos olhos de outra pessoa, se estivermos de olhos realmente abertos, vemos muito mais do que a materialidade ali posta. Vemos tanto a profundidade do ser, o fundo do lago, como também vemo-nos refletido em sua superfície. É um jogo de espelhos postos um a frente do outro, no qual, se prestarmos refinada atenção, vemos o infinito. O infinito é a essência.
Com o Yoga não é diferente. Acredito que a sua essência está nos olhos de quem olha. Se ela está nos nossos olhos, a vemos em tudo, na diversidade, na aparente superficialidade. Se o Yoga não está nos nossos olhos, não conseguimos vê-lo em lugar algum, nem mesmo no seu berço, a Índia. Se está, conseguimos vê-lo, inclusive, em atitudes de pessoas que sequer o conhecem. Se o Yoga está nos meus olhos, no meu coração, na minha alma não há lugar onde não possa estar. Os rótulos, reduções, divisões são reflexos do contexto no qual o Yoga está se inserindo. Uma sociedade que divide, classifica, rotula, torna qualquer coisa mercadoria, não poderia fazer diferente com o Yoga.
O que faz ou não com que os diversos yogas sejam Yoga são os nossos olhos, a nossa atitude frente a eles. Acredito que existam práticas e professores que têm maior poder de fazer-nos abrir os olhos e outras de atrair e conservar muitos míopes. Mas quem realmente deseja e tem olhos para enxergar, em qualquer uma dessas práticas, terá a possibilidade de desenvolver novas formas de se ver, de ver o mundo e de se ver no mundo. E talvez ela descubra que dentro desse seu novo ponto de vista, aquela prática que lhe abriu os olhos para muitas coisas não faz mais sentido. Daí, ele procurará outra.