Capítulo II – O conhecimento
Arjuna achou que tivesse argumentado o suficiente e que teria convencido Kṛṣṇa. Mas Kṛṣṇa responde no verso 02: “eu não estou entendendo nada”. “Nesse lugar inadequado, como recaiu sobre você, ó Arjuna, essa fraqueza que não conduz ao céu, que causa má fama e não é própria de uma pessoa respeitável?”.
Kṛṣṇa então argumenta que Arjuna tem a fama de ser correto, de enfrentar as situações, de ser um grande guerreiro, e que se ele pensa que fugir da guerra vai aumentar a sua boa fama ele está equivocado. Todo mundo vai dizer que ele, Arjuna, o grande guerreiro, ficou com medo. No verso 03 diz, provocando o orgulho do guerreiro: “Ó Arjuna, que não caia sobre você a efeminação; isto não condiz com você. Abandonando a fraqueza negativa do coração, levante-se!”.
Arjuna pára e percebe que não conseguiu convencer Kṛṣṇa e tenta convencê-lo de novo no verso 04:
“Como posso lutar e matar meu avô (Bhisma) e meu mestre de armas (Droṇa), essa pessoas merecem meu respeito?”.
E no verso 05 ele diz que melhor seria ele se tornar um renunciante do que matar os veneráveis mestres, porque nunca iria poder esquecer e usufruir de prazeres manchados de sangue.
É no verso 07 que acontece uma grande mudança em Arjuna, ele pára de reagir e coloca-se como discípulo de Kṛṣṇa e pede o autoconhecimento:
“Eu, dominado por covardia, com a mente incapacitada para decidir o que é certo e errado, peço-lhe: definitivamente ensine-me aquilo que é melhor para mim. Sou seu discípulo, ensine-me, pois estou entregue a você”
Aqui ele faz a mudança de um problema relativo que é a guerra para o que vai libertá-lo de estar sempre carente e achando que falta algo. E estas palavras marcam a grande mudança: “Sou seu discípulo. Ensine a mim, pois estou entregue a você”.
Depois dessa mudança de Arjuna, começa verdadeiramente o ensinamento da Gītā.
Neste momento existe uma entrega de Arjuna a Kṛṣṇa. Quando a gente se entrega para um mestre, essa entrega é em termos de intelecto. Eu estou disponível para escutar, eu desejo escutar, eu entrego o meu intelecto para poder escutar o ensinamento e confiar que o ensinamento tem algo grandioso a me ensinar.
Nesse momento Arjuna ficou tranqüilo porque transferiu o problema para Kṛṣṇa. Ele achou, a partir daí, que não iria fazer nada até que seu mestre o dissesse o que teria que fazer. No verso 10 Kṛṣṇa, então, dá um meio sorriso porque ele estava esperando por esse dia em que Arjuna acordasse para esse conhecimento.
No capitulo 2 verso 11 é onde começa o ensinamento, e esse ensinamento termina no capitulo 18 verso 66, ali é o ultimo verso de ensinamento. Kṛṣṇa no verso 11 do cap 2 diz pela primeira vez a palavra é “aśocyān” e no cap 18 verso 66 ele diz a palavra “maśocyān” que quer dizer a mesma coisa “não existe razão verdadeiramente para o seu sofrimento”, o seu sofrimento e qualquer sofrimento é ilegítimo.
Essa é uma afirmação contundente para se dizer a pessoa, acima de tudo para uma pessoa que se encontra na posição de Arjuna, frente a uma decisão tão difícil. Porém, nos versos seguintes, Kṛṣṇa irá explicar essa afirmação. E é aí que se dá o desenrolar do ensinamento.
No capítulo II, podemos dizer que Kṛṣṇa explica todo o ensinamento, através de afirmações como a do verso 12: “Nunca no passado eu não existi, tamopuco você ou esses reis. E nós todos não deixaremos de existir no futuro”. Porém Arjuna está com a mente por demais confusa para entender essa e outras afirmações. Se Arjuna prontamente entendesse, a Gītā terminaria ali. Mas ele precisa de mais maturidade, ele primeiro precisa acalmar a mente para entender o ensinamento.
Após apresentar o ensinamento, Kṛṣṇa explica a Arjuna que a guerra é justa e que ele deve guerrear, porque o dharma do guerreiro é a guerra, que nesse momento é inevitável. Para isso, a partir do verso 39, ele fala sobre Yoga e sobre o que é a ação, a natureza do agir. No verso 48 ele define o Yoga como a capacidade da mente se manter a mesma em qualquer situação, seja de sucesso ou fracasso. Com a mente firme através do Yoga, o conhecimento se torna possível.
*Resumo feito por Tales Nunes a partir das aulas da Essência da Gītā da professora Gloria Arieira.
