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o ser grato é sagrado

por Tales Nunes

Tudo é relacionamento, nada é posse, tudo passa.

É algo de fato estonteante ser um olhar e ao redor apreciar a imensidão que é o Universo. Nunca o veremos por completo. Realmente nada vemos por completo, mas do ângulo que vemos estamos sempre suscetíveis a nos admirarmos. Olhar para o mar e não ver o seu fim. Olhar para o céu azul e saber que não há limites em sua grandeza. Pegar um punhado de areia nas mãos e saber que são incontáveis os grãos. A abundância está por toda parte na natureza, mesmo onde aparentemente não há vida.

Somos um olhar associado a um corpo que o compõe dia a dia à medida que se relaciona com o mundo. E esse corpo, diante da imensidão da natureza, será sempre pequeno. Não apenas o corpo será pequeno, como tudo o que ele acredite possuir. De fato nada possuímos, nem o corpo é possuidor, tampouco o corpo é possuído por alguma força nele presente, como a mente por exemplo. Tudo é relacionamento, nada é posse, tudo passa. Mas acreditamos possuir as coisas com as quais nos relacionamos. E por mais que “possuamos” muitas coisas, olharemos ao nosso redor e veremos um mundo muito mais vasto do que aquilo que “possuímos”. O que não possuímos sempre será muito, mas muito maior do que o que “possuímos”. Se o nosso foco para nos sentirmos satisfeitos for o que não possuímos, nunca haverá um senso verdadeiro de gratidão. De poder olhar para si, olhar para o mundo e ter a capacidade agradecer por estar aqui. Agradecer por ter chegado até aqui, apesar dos tropeços e dos calos nos pés.

Verdadeiramente, não é preciso uma reflexão muito profunda para reconhecer que o fato de estar vivo já é motivo para ser grato. Chegar até o ponto em que se chegou, poder olhar para as escolhas que fez e o que elas fizeram de você, é uma riqueza que apenas você detém, usufrui e pode compartilhar.

Nesse constante relacionamento que é a vida, se você chegou até aqui é porque teve muitas pessoas cuidando de você. Não importa se não teve um pai presente, não importa se não teve uma mãe presente, alguém cumpriu o papel de cuidar de você, de outra maneira você não estaria aqui neste momento. Não estaria aqui igualmente se não houvessem pessoas constantemente cuidando de você neste exato momento, mesmo que silenciosamente. Uma pessoa que faz o seu trabalho bem feito e esse trabalho chega até você, é um cuidado. Estamos sempre cuidando, porque a vida é isso, relacionamento e em todo relacionamento há o cuidado em algum nível.

Você teve e tem muitos cuidadores em sua vida, visíveis e invisíveis, que fazem um trabalho silencioso para que a sua vida seja possível. E isso é o suficiente para que possa olhar para a vida, ver a imensidão que é o mundo e todas as possibilidades que você teve de não estar mais vivo e saber que ele de alguma maneira cuidou de você.

Ao abrir os olhos e perceber que há milhares de pessoas nessa teia da vida empenhando o seu cuidado para que a minha vida seja possível, a pergunta não é necessariamente porque eu deveria ser grato, mas exatamente o contrário, porque deveria eu não ser grato. Talvez a resposta seja, porque eu sofro, porque estou sofrendo, porque sinto um ser faltante. Realmente essas sensações estão presentes. Mas não apenas em você. Todos sentem dor, todos sofrem, todos em algum momento buscam algo fora por achar que a falta é inerente.

Quando esse olhar que somos olha demais para si, a dor se torna a vastidão e o olhar esquece que há uma imensidão ao redor. Uma imensidão que não me torna menor, mas me amplia em minhas relações, não em minhas “posses”. Me amplia em perceber a beleza que é a vida no compartilhar, coabitar e aprender com todos os seres. Mesmo que sejam plantas, pedras, animais. O ser grato é sagrado.

Tales Nunes

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