por Tales Nunes
Há muito nossas vozes se tornaram prantos.
As nossas preces perderam força
porque falam mais do que cantam,
pedem mais do que dão,
se desculpam mais do que dançam.
Desaprendemos a cantar.
Agora apenas murmuramos e tentamos silenciar as vozes líquidas que brotam fervilhando de dentro da Terra.
Não importa o quanto tentemos calar, os tambores, os cantos selvagens e as danças sensuais são como a noite visceral, vasta e misteriosa, a nos lembrar quem somos.
A essência da Natureza fervilha em nosso ventre.
A serenidade que tanto falam as religiões não é mais uma veste que moldamos e nos ornamos para apresentar para o outro.
Só existe paz após tocarmos a nossa nudez.
Só há leveza quando abraçamos, com coragem, altivez e graça, todas as forças que regem o nosso corpo.
Tales Nunes