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O fundamento da Vida não é a luta, é o deleite criativo

por Tales Nunes

Precisamos entender qual é a luta que criamos para saber como podemos sair dela. Não há ganho algum em sua manutenção, pois não há inimigo fora. Não há nada fora. Sequer há um lugar ou um objeto a ser conquistado.
A raiz da ilusão é acreditar que se deve lutar para chegar num lugar que não sabemos ao certo qual é, mas acreditamos ser a fonte de nossa plenitude. Parece haver uma falta inerente que nos mobiliza a seguir adiante sempre tirando do que está ao nosso redor, sempre consumindo na esperança de um preenchimento. Mas quanto mais lutamos, quanto mais ansiamos o preenchimento, mais a falta se amplia. A ansiedade de busca nos faz perder aquilo mesmo que buscamos. Inventamos uma luta que quanto mais mais tempo a ela dedicamos mais distantes de nós mesmos ficamos.
A solução não é aumentar a energia de luta. Intensificar o alerta e criar mais armas. As armas causam mais desamor e afastamento. A solução é desarmar, a solução é abrir mão momentaneamente de lutar para reconhecer que a luta não é necessária. Para enxergarmos o amor que somos, que é o fundamento da Vida, a luta é desnecessária. Quanta energia sugamos da natureza para desperdiçar numa busca desmedida, achando que precisamos competir ou que temos que chegar em algum lugar diferente do que estamos para descobrir a riqueza do amor que ela nos oferece em cada pequeno florescer, em nós e ao nosso redor.
Abrir o coração, abrir o corpo e a mente em escuta, em oferecimento e entrega à natureza, ao outro ao nosso redor, é o caminho de paz que o coração pede e nós não escutamos. Renda-se. Render-se não é perder. Tampouco é ganhar do outro, é ganhar junto. A urgência atual é de andar mais devagar, firme, mas na calma amorosa de um ritmo de reconhecimento. De quem encontrou um centro no próprio coração e o outro não é redução mas ampliação. Lugar onde não se luta para chegar, mas que se chega quando se deixa de lutar. Lugar que é a fonte eterna de tudo o que buscamos, que brilha, como a presença luminosa do Sol. Não é preciso guerra, quando se reconhece a própria força. Haverão embates, mas a força que se aplica para resolvê-los tem a medida de sua gravidade e o outro deixa de ser inimigo para ser aliado, mesmo em oposição.
Toda miséria, toda pobreza, toda destruição dos valores que vemos tem como fonte o nosso medo de escassez, o nosso medo enraizado na ansiedade de falta de amor, na nossa fraqueza de querer o poder por não experimentá-lo no coração como brisa e profundidade oceânicas. Acredite, o fundamento da Vida e da Natureza não é a luta, é o deleite; não é apropriação, é contemplação; não é falta, é criatividade e abundância constantes.

Tales Nunes

Florianópolis, 20 de fevereiro de 2017

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