por tales nunes
Falarei sobre a grande dissolução. Ou posso dizer, a grande morte e o grande nascimento.
Pouco a pouco os objetos ao redor começaram a perder a sua forma. Eu não estava distante de mim, nem de nada mais. O mundo inteiro começou a se dissolver em mim. Os sentidos das palavras se desgrudavam de seus sons. Todos os sentidos conhecidos para mim tornaram-se lembranças e todas as lembranças, até mesmo aquelas que desconhecia, de todo o meu passado vivido muito além dessa vida, passou a fazer parte de meu presente. Todos os que amo estavam em mim como o próprio amor. Não havia mais pensar e sentir separados, estava destituído do pensamento linear, de toda a análise racional, mas tudo brilhava em mim como uma presença intuitiva na qual pude compreender silenciosamente toda a minha vida naquele momento. Todo o sentido do viver e do morrer. Não compreendi o amor, eu não era mais do que ele. Tudo o que eu era em termos de ideia havia se dissolvido num sentimento global de amor e nada mais restava de mim.
O medo de perder, o medo do ego de se perder, nos faz perder o amor. Mas toda a vida é expressão do amor e toda a vida tem a sua razão nele. O medo nos faz perder a vida. Nasce cada dia quem ama. Morre cada dia quem ama. E quem ama nunca morre. Eis o que em nós é eterno. Não precisa ter medo. Toda a vida é uma passagem. Toda a vida é a descoberta da grande permanência.
Tales Nunes