por Tales Nunes
A ira de Shiva é puro amor. A força que move a vida. Ímpeto e graça. A ira de Shiva é o corte. O limite que expande. Quando estamos adormecidos, alienados da vida ou de nós, Shiva usa a ira como instrumento, a lança, a espada. Shiva corta a cabeça. Com o corte ele diz, que o coração seja o seu guia e o seu destino. Que o ego seja meio de transcendência. A ira de Shiva é puro amor para nos ajudar a não desperdiçar a vida com aquilo que é banal. Shiva é o renunciante. Sua renúncia é a maior afirmação. Renunciar à superficialidade para reconhecer o fundamento. Reconhecer o essencial e renunciar ao raso. Fazer o belo para encontrar o simples e dentro desse suposto limite, tocar o infinito. Shiva é também o dançarino, o ritmo da vida, a música da existência. A força de Shiva é a ascese que nos conduz à liberdade de dançar. Os limites que dissolvem os contornos. A ira de Shiva é puro amor.
Tales Nunes, julho de 2024