por Tales Nunes
Não nos dividimos em pedaços. Não há divisão em partes em nosso existir no mundo. Não há matemática da subtração. Deixamo-nos ser em lugares que desconhecemos mas não nos diminuímos por isso, nos espalhamos sem saber, como um fluido que escorre, e à medida que escorre não diminui sua quantidade de origem. Existir é ser algo além de si. Um olhar, um toque, uma palavra deixa um tanto de nós em lugares muito além de nós. O universo sensível do outro, espelha formas, sensações, imagens de nós que sequer imaginamos. Algumas dessas imagens escolhemos, como uma palavra, outras fazem parte do nosso estar no mundo. A forma do meu rosto pode tocar uma pessoa de maneiras que não tenho controle algum. Essas imagens, escolhidas por nós ou não, seguem como parte do ser do outro, quase como uma vida própria que é e não é ela. Ser é tocar e ser tocado por todas as formas de existir, materiais e imateriais. O sensível é um fluido que circula, um liquor, do qual somos parte, não como forma, mas como emanação. Pele, coração, sentidos, sentimentos, pensamentos, palavras, são intensidades licorosas, luminosas, sensíveis se movendo. Você além de você. O outro em você. O espaço entre, inexistente, onde tudo acontece. A vida é um oceano de intensidades. Não há subtração, não há pedaços. Não há espaço, ao passo que tudo é espaço aberto, existência sensível.
Tales Nunes
