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Ancestralidade

por Tales Nunes

Quando estou no seio da família e nela reconheço de onde vim e o vigor do lugar onde estou, sinto a minha ancestralidade viva. Mas a ancestralidade é mais ampla e mais profunda do que o núcleo de uma família. A família nuclear é um veículo para que eu reconheça uma ancestralidade mais vasta, muito mais vasta no tempo e no espaço. Quando leio um livro e consigo sentir a força das palavras e das ideias vibrarem o meu corpo, estou em contato profundo com o autor, naquele momento não apenas ele, mas a linguagem e todos os que estão inseridos e deixaram uma marca nela fazem parte da minha ancestralidade. Quando me alimento, aquela comida que a Terra me oferece, a própria Terra e aqueles que a cultivaram fazem parte da minha ancestralidade. Quando mergulho no mar e consigo sentir a força das águas em meu corpo, reconheço a minha ancestralidade no Oceano inteiro. Quando respiro profundo e o ar nutre a minha alma, minha ancestralidade também é etérea. Quando olho uma estrela e sinto de alguma maneira que ela me faz companhia, lembro-me de onde vim. Quando fecho os olhos e vejo em meu coração o Universo inteiro; quando num vislumbre de lucidez olho ao meu redor e consigo reverenciar o amor em cada manifestação da Vida; quando num lampejo de graça reconheço todos os seres como uma família, nesse momento eu verdadeiramente entendi a realidade profunda da minha ancestralidade.

Tales Nunes

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