Eu sinto, quando meu corpo vai se soltando, na pratica de Yoga, no mar, na relação amorosa ou escutando uma música, que o erótico desperta como uma força inerente à vida. Sinto nitidamente, o erótico está em tudo. O amor está em tudo. O amor não é uma finalidade, qualquer coisa alcançável no futuro.
O útil escapa ao erótico, ao amor. Não há utilidade alguma no amor. Acho interessante quando divulgam pesquisas científicas detalhando os efeitos benéficos de fazer amor, de caminhar na floresta ou de mergulhar no mar. Como se a pessoa fosse fazer amor, caminhar na floresta ou mergulhar no mar para ter determinados benefícios além do instante mágico que eles se constituem. Fazer amor para, não é fazer amor. Quando realmente fazemos amor, o desejo encontra seu destino, toca sua própria origem, deixa então de se projetar adiante, pensando num ganho ou numa perda. Fluímos no desejo, como fluímos no instante.
Assim como o útil escapa ao erótico, o erótico escapa ao útil. Num mundo no qual a nossa mente olha para as formas ao redor e parece não conseguir ver além do útil, o erótico nos escapa, o amor nos escapa. Por isso seguimos neuroticamente em busca de um ganho futuro que não chega. A dissolução amorosa, a dissolução erótica nos permite sentir o mundo como uma totalidade viva e cambiante. Nos faz perceber que o erótico é força inerente à vida.
Podemos sentir o erótico ao caminhar nas ruas de uma cidade ou em meio à floresta. Podemos tomar um café eroticamente, amorosamente, com todo nosso ser nesse encontro, com nosso corpo pleno no lugar onde estamos. Assim também podemos conversar, escrever, sonhar.
É possível fazer tudo com amor, num mundo onde reina o útil, o trabalho repetitivo e a aceleração constante? Talvez seja uma utopia. Eu prefiro a utopia à viver num mundo reduzido à utilidade, ao lucro e ao acúmulo. Que essa utopia me mova para viver amorosamente, plenamente vivo, como uma força da natureza ou um sentido musical.
Tales Nunes