Capítulo IX. O maior dos conhecimentos (rei), o maior dos segredos (rei).
O primeiro e segundo versos deste capítulo dizem:
“Eu falarei a você, que é livre de inveja, sobre o maior dentre todos os segredos. Este é o conhecimento combinado com a precepção direta. Adquirindo este conhecimento, você será livre do sofrimento.” (I)
“Este é o rei dos conhecimentos, o rei dos segredos, o maior purificador, aquele cuja percepção é direta, que não é contrário ao dharma, facilmente alcançado e imutável.” (II)
Neste capítulo, o conhecimento da identidade entre o indivíduo e o Todo é chamado de rājavidyā, o conhecimento rei entre todos os tipos de conhecimento. Existem diversas possibilidades de conhecimento, ou seja, o conhecimento de vários objetos. O mais importante, porém, é o conhecimento de si mesmo, o conhecimento do Sujeito.
Todos nascemos ignorantes. Não sabemos nem mesmo quem são os nossos pais. Depois de um tempo começamos a pronunciar “ma ma ma” ate sair “mãe” ou “mamãe” e assim por diante. Dedicamos a vida toda para conhecer tudo, mas ninguém se dedica a conhecer a si mesmo, esse conhecimento que é o principal que é o conhecimento de você mesmo. Esse não ocupa a nossa atenção. Esse é o maior conhecimento, esse é o maior segredo. Segredo porque ele não é auto-revelado. E quando você o adquire, você sabe quem você é realmente.
Há uma Upaniṣad que diz:
“O que é aquilo que quando conhecido, todas as coisas se tornam conhecidas?”. É aquilo que é a causa material de todo o Universo. Aquilo que é essencial. Assim como conhecendo o barro, todos os objetos de barro se tornam conhecidos. Assim quando se conhece a natureza essencial de tudo o que existe, conhece-se tudo o que existe. Essa verdade de todo o Universo é você mesmo, Ātman. Esse Eu que você achava ser limitado, carente, ele é completo em si mesmo, livre de limitação. Tudo o que buscamos é a completude, mas já somos essa completude.
Por isso é dito que esse conhecimento é fundamental, pois é o conhecimento do Eu. E é esse eu que se relaciona com todas as outras coisas. Esse conhecimento, portanto, traz uma nova maneira de vermos a nós mesmos e como consequência uma nova maneira de ver o mundo. Através desse conhecimento a pessoa vê a unidade de todas as coisas.
Todos os conhecimentos que adquirimos são conhecimentos que vão nos ajudar a lidar com o mundo. O nosso desafio é lidar com o mundo. Eu tenho que conhecer os objetos, os objetos são variáveis, mas o invariável sou eu. Eu sou aquele que está sempre presente. Eu preciso me conhecer para saber o que eu quero.
Nesse capítulo é tocado novamente no assunto da importância do conhecimento como meio de purificação. Pois é o conhecimento que me liberta da minha visão de limitação. O conhecimento muda a maneira como vemos as coisas.
Esse conhecimento, em uma primeira instância, precisa ser desejado. Depois que existe um desejo pelo conhecimento a pessoa passa então a buscar esse conhecimento. E a capacidade para a assimilação desse conhecimento é uma mente capaz de apreciar, uma mente apreciativa. O que nega o conhecimento é o conjunto de rāgas e dveṣas, gostos e aversões.
A mente contemplativa é a mente que tem a visão de que ela faz parte desse Todo, Īśvara. Ela, então, confia que o que vier é fruto do resultado da minha ação e que é o melhor para mim naquele momento, pois fiz o meu melhor e não tenho controle sobre o resultado das ações. Kṛṣṇa diz, faça a ação e entregue as preocupações com o resultado delas a Mim! Você já esta inserido na ordem cósmica, agora é preciso compreender isso.
Esse conhecimento é um grande segredo porque é difícil de ser compreendido e necessita de um desejo por ele, uma dedicação e um tempo para que ele faça parte da sua vida. Kṛṣṇa diz que esse ensinamento é o maior segredo também porque é aquilo que você já é, é aquilo que é experienciado por você, aquilo que é o mais óbvio e você sai procurando aqui e ali.
*Resumo feito por Tales Nunes a partir das aulas da Essência da Gītā da professora Gloria Arieira.
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