Para mim, o nomadismo é um dos sentidos mais bonitos que podemos pensar uma forma de existir. Nomadismo é caminhar e fazer casa por onde se caminha. É a possibilidade de encontro profundo com a Terra, com o lugar onde se está. A integração é o coração do nômade. O sentido histórico do termo nômade se refere a povos. Povos nômades. Povos que ao compreenderam seu vínculo intrínseco com o outro e com a Terra, não criaram estados, nações, fronteiras.
Hoje a palavra “nômade” foi apropriada para se referir a algo completamente diferente. O mundo digital é um mundo sem lugar, sem vínculo profundo. O termo “nômade digital” é por si só um paradoxo, tanto por ser um o digital um lugar em que o sentido de comunidade não se estabelece, quanto por ser um lugar sem lugar. É mais uma desfiguração moderna de um sentido profundo. O que se diz ser o nômade digital, hoje, é aquele que não aprofunda a relação com lugar algum. Não se vincula ao lugar onde está, não se implica nas questões comunitárias da terra onde está. Ficam, sugam, e vão para outro lugar, geralmente onde a sua moeda vale mais do que a moeda local. Não pensam no rastro que deixam.
Nomadismo é uma palavra linda que tem sido usada para definir nada mais do que o turista. E o turista não é o nômade. O nômade não é turista. Você pode ser nômade em sua própria cidade, se você a vivencia profundamente. Se a cidade é para você um lugar de encontro, uma comunidade local, um lugar de criação de sentidos coletivos, ela tem, para você, um sentido nomádico.
O nômade é aquele que se implica com a terra e com a comunidade.
Tales Nunes