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Yoga, Poesia, cursos, reflexões, pensamentos

O prana, a força vital

A força vital e a natureza

Asana é uma preparação para prāṇāyāma à medida que sutilizamos a nossa percepção. Os āsanas movem a energia no corpo de maneira a equilibrá-lo, promovendo sattva no corpo e na mente. Esse caminho cognitivo de sutilização passa pelo contato sincero com o corpo e com os conteúdos da mente durante o processo. Essa sinceridade e coragem de permanência em si abrem a percepção e a sutilizam.

Então, a prática de āsana começa a deixar de ser apenas física, porque a percepção do próprio corpo não é mais de apenas um corpo físico, mas um corpo físico animado por um corpo sutil, com seus movimentos interdependentes. Os āsana então se tornam meios de direcionamento e de movimentação de prāṇā para regiões do corpo, criando sensação de abertura, fluidez, força e estabilidade.

Os āsana são meios de aumentar e de fazer o prāṇā circular mais livremente no corpo, prāṇāyāma é uma forma de mover o prāṇā diretamente. É como acessar diretamente a fonte de prāṇa, de energia universal. Prāṇa é a força primordial da Vida. Tudo se move devido ao prāṇa. É uma força impessoal que anima e dá vida a todos os seres. A vontade, a intenção são forças que tem o poder de movimentar o prāṇa. Mas lembre-se, elas também fazem parte do prāṇa. Sequer a vontade é uma força pessoal. Quando você se move é a energia universal que se movimenta, quando você age, há forças agindo através de você, junto com você. Prāṇāyāma é entender que o prāṇa é universal, não pessoal, e ao mesmo tempo aprender a lidar com essa força primordial de maneira inteligente em sua vida.

A maneira mais inteligente de lidar com ela é reconhecendo-se integrado e não pensando-se separado dela. As fontes essenciais de prāṇa estão na Natureza – nos mares, nos rios, nas florestas – e na base do corpo humano. Mas o segundo alimenta-se do primeiro. Distanciando-nos da Natureza, perdemos prāṇa, desligamo-nos da fonte da Vida. Distanciando do corpo e de seus processos vitais de equilíbrio, ou seja, comprometendo o sono, a alimentação, deturpando a sexualidade, perdendo contato direto com o Mar, com o Sol, com a Terra, com os rios, com os ritos ligados à Natureza que nos conectam aos seus ritmos, gradualmente esgotamos aos poucos a nossa fonte de prāṇā que está no primeiro chakra, o chakra da terra, e nos enfraquecemos. Essencialmente o que nos enfraquece é achar que somos o centro, que estamos separados e agirmos como tal.

O seu brilho pessoal não é seu, é do Sol. O seu poder de realização não é sua, é da Terra. A sua força de mobilidade não é sua, é do Ar. A sua capacidade de nutrição não é sua, é do Mar.

 

O prāṇa, o som e a mente

O prāṇa e a mente se movem juntos. O objetivo essencial da prática de Yoga é reconhecer quem essencialmente somos, para além do corpo, da mente e mesmo do prāṇa. Porém, grande parte da prática de Yoga consiste em ter um comando sobre a mente. O prāṇāyāma é um veículo fundamental para isso.

A respiração é um meio através do qual conduzimos, equilibramos e expandimos o prāṇa. A respiração é uma ponte entre o físico e o sutil. Assim como a respiração, a fala é uma forma do prāṇa. A fala é uma extensão da respiração, carregado de sentido e de intenção. Mas a intenção não nasce na fala. O pensamento é igualmente movimento do prāṇa, é uma forma do prāṇa. A intenção está no pensamento, a sua força se expressa através da fala e das ações.

A intenção é uma força fundamental de direcionamento do prāṇa. Que pode ser expressa em pensamentos deliberados, na fala ou nas ações físicas. Os pensamentos deliberados são diferentes dos pensamentos reativos. Os deliberados partem de nossa ação e não de nossa reação, e estão alicerçados sobre a intenção e a liberdade. O pensamento tem força de ação, não conseguimos saber a sua medida, mas como ação sutil, seus resultados reverberam em algum nível. A fala tem o poder de carregar sentidos e intenções e tocar o outro com a sua vibração. Mesmo que não tenha alguém a escutar a palavra lançada com intenção, como o mantra, purifica o agente da ação e reverbera como resultado em algum plano, de acordo com a intenção. Tanto o pensamento quanto a palavra podem ser usadas, por exemplo, na energização do corpo e na energização de objetos.

Portanto, o mantra ou a oração são veículos que carregam a força do prāṇa,  a intenção cria uma vibração específica e depois é lançada em direção a um resultado, seja em sua forma sutil, de pensamento, ou mais densa, a fala.

O sopro do prāṇā produz o mantra. A vibração do mantra conduz o prāṇā.

 

Prāṇa é força criativa

Muitos praticantes de Yoga confundem paz com inércia, contentamento com apatia, silêncio com inexpressão. O Yoga quer você forte, pleno e capaz de expressar para o mundo a beleza divina que anseia se mostrar através de você. A espontaneidade da Vida é beleza, força e expressividade.

Paz não é passividade ou falta de energia. Negar a força vital em nome da paz é violência. Paz é reconhecer a potência da Vida, a força criativa em cada momento, a partir de um olhar de admiração contemplativa, reconhecendo essa mesma força em si mesmo. Paz é exercer a própria potência sem precisar firmar o poder. O poder subjuga outro, nele há domínio, isso é violência. A potência, ao criar, seja através da ação ou da “não ação”, soma e ajuda a aumentar a potência do outro.

Tales Nunes

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