por Tales Nunes
Liberdade não é poder fazer qualquer coisa. Dependendo do contexto, querer e poder fazer qualquer coisa pode ser extremamente tirano. Liberdade é um compromisso amoroso.
A ideia infantil de liberdade interpreta que qualquer compromisso tolhe a escolha. Não é difícil reconhecer, porém, que quando escolho um compromisso amoroso, a minha liberdade opta por uma restrição que me amplia.
Qualquer pessoa que opta pela disciplina bem entendida, ou seja, fundada no Amor como escolha, sabe que nela há uma ampliação. No Yoga há diversas possibilidades de disciplinas. Nenhuma delas é imposta através da força, devem ser uma escolha. Implicam restrições, assim como no Amor, mas ao final elas nos ampliam.
Logo que pensamos no Amor, pensamos na liberdade. Não é possível um sem o outro. O Amor é a aproximação de liberdades que escolhem o entrelaçamento do corpo e da alma. No Amor, a alma, ritmo, é sentida no corpo e o corpo é sentido como o ritmo da alma. É ao mesmo tempo um encontro carnal e místico.
No Yoga, por sua vez, quando eu repito um mantra e nele me vejo e nele me sinto como corpo e alma, não estou sendo menos livre do que quando escrevo um poema novo que nasce desse mesmo olhar, desse mesmo sentimento.
Não se engane com a forma, atenha-se ao essencial. O Amor está no corpo e além dele. O Amor está na forma e além dela. Se, num relacionamento afetivo, eu escolho compartilhar a minha liberdade amorosa com uma pessoa apenas, isso não é aprisionamento. Se eu escolho fazer as mesmas posturas de Yoga todos os dias, ou se opto por fazer uma prática coletiva em que todos seguem juntos, em compasso, isso não me restringe. Será que num círculo de um grupo indígena, no qual todos dançam de mãos dadas no mesmo ritmo, repetindo o mesmo canto, eles estão tendo suas liberdades tolhidas?! Ou será isso um encontro, um reconhecimento, uma ampliação?!
Eu só consigo reconhecer a liberdade profundamente como um sentimento amoroso em mim. Eu só consigo conhecer o Amor através da liberdade de me comprometer, mesmo que esse compromisso seja a luta para ampliar as liberdades sociais. Até a luta é um compromisso amoroso, um compromisso ético e estético.
No momento em que a tirania ameaça a liberdade, o Amor é subversivo porque é liberdade.
No momento em que a ideia de “poder fazer tudo o que se quer” ameaça a liberdade, o Amor é subversivo porque é compromisso.
No momento em que o ceticismo ameaça a liberdade, o Amor é subversivo porque é toque e sonho, é pele e alma, é elo entre o material e o imaterial.
O Yoga é o encontro com esse amor, nasce desse amor e nele nos faz reconhecer a liberdade, de novo e de novo. O Yoga está ali sempre que nos comprometemos com a liberdade e sempre que somos livres no compromisso.
O Amor é a mão estendida para caminhar junto.
O Amor é a mão estendida para deixar ir.
O Yoga é a mão estendida para caminhar junto.
O Yoga é a mão estendida para deixar ir.
Tales Nunes
Florianópolis, 21 de julho de 2021