Em minha transição da adolescência para a vida adulta, lembro de sentir uma tristeza profunda misturada com certo medo. Eu pensava que era medo de crescer, de entrar no mundo dos adultos. Hoje sei que não. O mundo adulto é incrível. A questão é que o que dizem ser crescimento é um equívoco. O que dizem ser crescimento é se moldar às exigências sociais.
Não nos avisam que se adequar a uma sociedade doente pode nos quebrar ao meio, nos fragmentar em pequenos pedaços até sobrar apenas uma lembrança de um tempo em que fomos inteiros. Há muita gente partida e perdida por sequer saber o que a estilhaçou.
Tornar-se adulto não é se adequar. Tornar-se adulto é manter a integridade da criança, somada à maturidade das experiências, é preservar o questionamento e a abertura na mente e a vida fértil no coração. Tornar-se adulto é não se render à moral, sobretudo quando ela é totalmente contrária à ética. Tornar-se adulto é ser mais do que uma família apenas, é permanecer sendo uma família com a Vida, com os animais, com as plantas. Eu entendi muito mais tarde que era isso que não queria abrir mão.
Minha tristeza volta quando vejo a guerra, a fome, a injustiça de um lado, do outro a apatia, o conformismo, o fingimento e a ganância. Minha tristeza volta quando vejo pessoas presas a uma vida que nunca escolheram e pensam que o mundo não pode ser diferente. Mas agora o meu medo é menor e a paranoia coletiva não me paralisa, porque sei onde cheguei. Tenho a poesia como companhia e meio de chegar até você para dizer: “Não se molde a, não se conforme com uma sociedade doente. Essa será a sua saúde”.
Tales Nunes
*ilustração de Tainá Andery