Vivemos o tempo da performance. A época do melhoramento pessoal. Não para ser uma pessoa melhor, mas para ser um indivíduo mais produtivo. É fundamental ser mais eficaz, mais eficiente, mais objetivo, mais racional, mais perfeito, mais máquina, menos humano. Não há mais o mundo do trabalho separado de qualquer outro mundo. O mundo se tornou o trabalho e a pessoa, um serviço que oferece.
Por isso, todas as áreas da vida são vistas como um treinamento pessoal, como uma carreira. Busca-se a performance no trabalho, no exercício físico, no amor, no sexo. A lógica do lucro, da carreira pessoal invadiu todos os âmbitos das nossas vidas.
É preciso ter propósito em tudo. Mas você pode me dizer qual é o propósito no sexo? O prazer?
Se você busca o prazer como propósito, ele lhe escapa na mesma proporção que a sua gana de alcançá-lo. Para se ter prazer na relação é preciso se abandonar, esquecê-lo como propósito e se entregar. Essa é a questão. Na corrida pela busca empreendedora de si mesmo, a pessoa se torna uma empresa. E a empresa não permite o prazer, tampouco o relaxamento.
A lógica do treinamento pessoal e do lucro tomaram conta, inclusive, das religiões. O neopentecostalismo, religião que mais cresce no Brasil, tem como o seu fundamento o lucro e a lógica do empreendedorismo. Não poderia ser diferente com o Yoga. Não me refiro à lógica do lucro enquanto algo que você precise pagar para fazer. É muito mais profundo do que isso. O discurso de melhoramento pessoal tem invadido o Yoga. Como se o Yoga fosse um treinamento pessoal. Como se fosse algo que vai fazer o indivíduo ter um rendimento ótimo na Vida. Vende-se regras de treinamento, retiros para provocar processos internos movidos por algum tipo de stress para que o indivíduo supere alguma crença que o limita, quase como uma prática militar. Vende-se “tantos passos para tal coisa”, com resultado garantido em um tempo determinado.
A Vida tem se tornado um cálculo matemático e o Yoga aparece como mais uma ferramenta de contabilidade e de resultado garantido.
É interessante ver a tentativa de superar o problema com o mesmo método que causa o problema. O problema é a vertiginosa cobrança que nós introjetamos, de um sistema que nos convence que existe um indivíduo perfeito e que devemos alcançá-lo, que a falibilidade é fracasso e que o sucesso é medido pelo lucro e pelo quanto você não demostra a sua fragilidade. É um sistema que escraviza não apenas o corpo mas que foi introjetado pela mente como algo inerente à Vida.
A competição, a corrida pelo lucro, a falta de tempo, a ideia de perfeição pessoal são invenções de um tempo, desse tempo. É tão bem elaborada que pensamos ser pessoal e exatamente por isso penetra nos meios que teriam a força de contrapô-la, como o Yoga.
O Yoga não é uma ferramenta de melhoramento produtivo. O professor de Yoga não é um ser perfeito e “bem sucedido”. O professor de Yoga tampouco deve induzir que as pessoas sigam o mesmo caminho que o seu. Se o professor de Yoga acredita que é um modelo a ser seguido, ele se perdeu.
O Yoga é um meio de conhecimento cujo objetivo é ampliar a liberdade do corpo e da mente, fazendo a pessoa se reconhecer como essencialmente livre. Para isso, usa a disciplina, sim, mas como um meio para descobrir uma liberdade fundamental. Apenas assim a pessoa pode se desvincular da fantasia da existência de um indivíduo perfeito e se permitir relaxar. Inclusive, essa pessoa, o yogi, pode ser julgada pela sociedade como um fracasso, pelo seu jeito de estar no mundo ou de se contrapor ao que está estabelecido.
O que quer que tentem lhe vender como Yoga ou Vedanta, apelando para um treinamento pessoal, com promessas de transformação instantânea, seguindo passos específicos de um mentor que inventou, é mera retórica.