por Tales Nunes
O corpo que se fixa na disciplina rígida é um corpo que acredita mais na repressão como forma de organização do que no amor.
O amor é a memória mais antiga, a liga. Caos é o abismo, o vazio de onde tudo nasce. Caos é a ausência de sentido no qual os sentidos são criados. É um campo pleno de possibilidades de ligações.
Eu sinto a disciplina como um meio de conduzir à entrega na qual o amor se revela e o vazio profundo se mostra, infinito como a noite luminosa.
Eu sinto a disciplina como uma manifestação espontânea do corpo que toca essa fonte e faz da própria vida sua expressão.
A arte para mim é expressão do amor, a disciplina é um meio. Quanto mais envolvido amorosamente com o tema, mais disciplina eu tenho para criar. Outras vezes, a disciplina conduz à abertura no qual o fluxo amoroso se faz vida e criação.
Falo da arte porque para mim é ela que flexibiliza a rigidez de uma ideia de disciplina yogi fundada numa pressão exagerada sobre mim mesmo.
Essa disciplina, rígida, é estéril. É a disciplina da repetição mecânica, não da criatividade, da força fértil da vida, do amor. Essa disciplina muitas vezes é fuga do vazio, do profundo da origem que permeia a existência. Uma fuga da ausência de sentido, na qual os sentidos nascem como a metamorfose das plantas.
O amor é a memória mais antiga. A disciplina não briga, ela dança e brinca com o Caos, com o vazio primordial.
(Tales Nunes)